sábado, 13 de fevereiro de 2010

PODE SIM

É Carnaval. Hum. Fico em SP. Queria escrever sobre a evolução do espírito humano. Mas não sei, daí espero o telefoner tocar. Me chamam pra ir a um bar. Hum. Penso. Todo mundo de casalzinho. Hum, ok. É Carnaval e ontem pela primeira vez, vi um desfile das escolas de samba. Nunca, nunca tinha imaginado que isso poderia acontecer na minha vida, mas com uma brother gringa "chega-chegando" a gente se sacrifica. Mentira. Exagero. Consegui me divertir mesmo pagando cinco conto, no churros. Mas juro: queria escrever Assim falou Zaratrusta parte II, neste Carnaval. Só que não dá. Não sei e tenho preguiça de pensar. É mais fácil ir ao bar e falar bobagens sérias com a galera. Ah, isso é bom demais!: saber que tem gente que é fiel a você, assim como você é a eles - mesmo quando o barranco desmorona. E o melhor, é quando você fala no meio dessa rodinha: "Gente, dormi, na arquibancada, e fiquei puta da vida, porque não havia levado meu mp3, para ouvir John Frusciante..." E ninguém corta a sua fala, no meio. Nem fingi simpatia, ou é, todo mundo numa mesma sintonia. "Cansa mesmo tanta pluma!".2010, carnaval, hum, dois chopinhos para quem ainda pensa escrever a sua grande obra! O espírito humano e sua jornada na... Esquece. Preciso dar um rolê, com o pessoal.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CRÔNICA ORDINÁRIA

"Eu não sou amado porque sou bom, sou bom porque sou amado"
Mandela
Hora do almoço. Ela tocou o seu ombro, lentamente: "É bom comer aqui?". Ele sorriu, reconheceu a sua nova colega de trabalho. "Pode ser bom e pode ser ruim, depende." Riram. Cada qual foi fazendo o seu prato, para depois de pesá-los, sentar à mesa mais próxima. "Tá achando muito difícil o trabalho?". Fazia tempo que ela não achava as coisas tão difíceis assim. Queria apenas compartilhar, a fase da sobrevivência havia passado. Começava a se amar devagarinho e agora estava mais fácil ficar ali, ao lado de quem queria. "Um pouco." Ele a fitou curioso, sua voz era de mulher, que por sua vez não condizia com sua feição de garota. "Se precisar de ajuda, me dá um toque". Olhou para o prato e sem encará-lo agradeceu a gentileza, ansiosa logo foi cortando a troxinha de queijo, até que depois de muita insistência, engoliu um pedaço. "Acho que você deixou cair um pedacinho, no seu colo." E de fato, havia se sujado. Olhou para o rapaz, era mais uma oportunidade de se doar ao mundo, disse:"Vou precisar mesmo da sua ajuda." Era bom viver um dia de cada vez, desfrutava, agora, das coisas mais banais da vida como não perder mais os seus brincos, a dormir tranquilamente e o melhor de tudo: começava a confiar, nos estranhos e isso era mágico: ela existia e era Amor.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

TESE I

"Compreendi o quanto é importante aceitar o destino. Porque assim há um eu que não recua quando surge o incompreensível. Um eu que resiste, que suporta a verdade e que está a altura do mundo e do destino. Então uma derrota pode ser ao mesmo tempo uma vitória. Nada se perturba, nem dentro, nem fora, porque nossa própria continuidade resistiu a torrente da vida e do tempo." Carl Gustav Jung

domingo, 7 de fevereiro de 2010

MINHA VOZ

Olha, sabe, eu acho que eu tenho uma voz e ela é digna. Acho mesmo. Acho que sob todos os discursos que permeiam a minha consciência, tenho uma voz que sabe sintetizar tudo da melhor maneira possível que é ser sincera e aguentar o tranco. Não falo de verdades absolutas, nem me atreveria. A minha voz é humilde o suficiente para expressar que, na maior parte das vezes, somos confusos e contraditórios. Nao tem fórmula para se viver, se constituir como gente não é brincadeira, pois viver pode ser bem desesperador, para quem ainda acredita em lições de cartilha.
Olho as pessoas ao meu redor e fico embasbacada: como eles se entendem! Como eu os entendo em tão pouco tempo! Em você, nada é estranho, posso rejeitar o meu eu no seu, mas jamais será estranho! Às vezes, a minha voz soa como um trovão, é quando estou apaixonada por alguém, ou alguma coisa, que pode ser até uma ideia, uma sensação que precisa ser expressa e aí eu falo, escrevo, saio do caos por alguns minutinhos. Mas às vezes, a minha voz é oprimida, diminuída, rejeitada, silenciada, ou por mim mesma ou pelos outros e o nó fica ali para ser desatado, em uma outra oportunidade.
Acho sim, acho mesmo que tenho uma voz que quer contar a sua própria versão do que seja a vida, claro, o meu ponto de vista de tudo e de todos, que não é um veredito, e sim um praquejo humano, feito de balbucios descritivos, ou seja, mais um discurso humano, permeado pela cumplicidade de existir.
Deitada, na cama, prestes a adormecer, quando as imagens começam lentamente a surgir sem nexo, eu vi um céu lindo, com uma casa gigantesca, parecida com aqueles palácios romanos, pensei: "É o Paraíso!" . Meu coração disparou, imediatamente, saiu a minha voz irônica: "Não quero morrer, além do mais, sou budista e esse palácio está muito... cristão!".
É isso, é exatamente isso, a minha voz quer sair para falar em alto e bom tom: RESISTO na minha insignificância, nessa noite escura e o que me consola é ouvir-me como uma amiga mais corajosa.

INSÔNIA

Noite insone. Faz tempo que isso não acontecia. Está quente e há pernilongos no quarto, assim é fácil ficar acordada e não voltar a dormir mais. Um saco. E é aí que os pensamentos chegam, na surdina. Dúvidas. Ânsias. Projetinhos... Perscrutar a si mesma. Ideias, algumas absurdas, outras sensatas demais começam a surgir: cortar o cabelo curtinho? escrever o artigo? comprar uma televisão de plasma? mandar e-mail pra profa. de francês? será que ele pensa em mim, com carinho?
Levanto da cama e tomo um copo de leite - um mimo. Lá fora, avisto outra pessoa que parece também ter perdido o sono. Quanta inquietação! A minha é maior, pois quero tudo para um único dia: isso e aquilo e mais um pouquinho! Solidão é interessante quando se está suportavelmente bem consigo mesmo, é como mergulhar a uma profundidade significativa e ali ficar de olhos abertos olhando o seu cabelo flutuando, na água. Mas tem um momento, em que temos que ir à tona e voltar a respirar em companhia dos outros. Mas às 4h00 da madrugada encontro apenas meu bichinho de estimação, que olha sem entender minha perambulação pelo apartamento. Corto um naco de pão de milho, como letargicamente, abro a página de um livro para me dar uma pista de como agir diante disso disso e disso... Volto para cama e fico olhando para o teto: "Eu sou um homem doente..." Não, isso não, isso é o que o Homem do Subsolo disse, e o que disse Gregor Samsa, quando não dormia? Tem gente que tem insights maravilhosos, em noite de insônia, como aquele cara que montou um puta empresa e agora é rico! Mas, definitivamente, esse não é o meu caso! Brinco de tentar adivinhar o meu futuro. Acredito que se me esforçar mais um pouquinho eu chego lá. Lá onde? Enfim. As luzes do vizinho apagaram, ele foi dormir e percebo que está na hora de ceder um pouco: tranquilize-se, é apenas uma noite insone.