Há uma verdade em cada um daqueles escritos, há uma certa intimidade corajosa naqueles desabafos que acariciam a dor da morte. Como leitora, voyer sôfrega, a cada verso tragado, coloco os pés no lago de brumas na tentativa de tatear uma resposta.
O Nada é um urso polar imenso à procura de presas. Ele não é mal, é natural. O que assombra é, talvez, a certeza da falta de sentido. Ninguém, naquela manhã, atreveu-se a dizer um não e, como robôs, ordenaram suas falas e poliram seus pensamentos, solicitando apenas notas fiscais a cada desejo entornado.
De dia, meu amor é imenso. Sinto-me forte e, como a lua, observo a humanidade com generosidade e perdão. Tiro do meu bolso, quando tocam o sino no final da tarde, tanques de areia, nos quais deixo no canto um rastelo, uma picareta e uma foice. Equilibro-me no meu olho esquerdo, jogando o peso do ideal para o alto, içando qualquer tentativa de autoflagelação. Aprendi a me amar e agora estou pronta para o Bem. De noite, com a respiração presa, visito a vida de um ancestral raposa, sábio e aterrorizante conta a minha história segurando uma flor orvalhada. Ele a assopra e sinto que meu coração é uma harpa vibrante.