quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Em uma bela manhã, talvez eu fique inteira, novamente, como quando eu vim ao mundo. Há menos ingenuidade e generosidade em minha alma do que eu imagino. Talvez, a morte seja sim só uma passagem, mas por enquanto apenas as laranjas robustas sobre a fruteira cintilam a esperança de recomeçarmos sem você. É bom o sol da primavera. A minha grande mudança será quando eu decidir ser uma andarilha do mundo. Caminharei até os meus cabelos crescerem desordenadamente e se engalfinharem, nos meus tornozelos. Eu não sei se gosto de viver em sociedade. Ontem, eu resolvi dar de presente pérolas à minha irmã. Os sinos nos convocam a irmos à missa, é domingo e não tiro os olhos dos urubus que sobrevoam as nossas cabeças, é, pois é, talvez chova, é, pois é, talvez eu ame mais uma vez. Gostaria mesmo que inventassem uma pílula para cessar a timidez, tomaria-a toda vez que me desse vontade de criar - qualquer coisa, por exemplo: um sorriso para quem me é gratuitamente, gentil. Eu não sei se nasci do meu pai, pois até hoje procuro o meu pai biológico. Ninguém me impressiona mais do que os loucos. Não há desculpa para desistir de algo, nunca houve, não há saída para quem começou a subir a escada em espiral. Gosto de saber que o grafite quando submetido à pressão transforma-se em diamante. Odeio sentir raiva. Odeio desistir das pessoas. Os animais são um barato e dentre eles o felino é o mais admirável: intuitivos, misteriosos, humildes, e sábios porque nunca deixaram os homens os domesticarem por completo. Eu presinto, nesse final de ano, que se vomitar muito, em um jantar célebre, cercado de pessoas importantes, eu voltarei a ser inteira e me transformarei em um belo bebê com os olhos verde esmeralda.
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