domingo, 28 de setembro de 2008

MEDITAÇÃO À BEIRA DE UM POEMA Adélia Prado

Podei a roseira no momento certo
e viajei muitos dias,
apredendo de vez
que se deve esperar biblicamente
pela hora das coisas.
Quando abri a janela, vi-a,
como nunca vira,
constelada,
os botões,
alguns já com o rosa-pálido
espiando entre sépalas,
jóias vivas em pencas.
Minha dor nas costas,
meu desaponto com os limites do tempo,
o grande esforço para que me entendam
pulverizaram-se
diante do recorrente milagre.
Maravilhosas faziam-se
as cíclicas, perecíveis rosas.
Ninguém me demoverá
do que de repente soube
à margem dos edifícios da razão:
a misericórdia está intacta,
vagalhões de cobiça,
punhos fechados,
altissonantes iras,
nada impede ouro de corolas
e acreditai: perfurmes.
Só porque é setembro.
Foto tirada em 28/09/08 na Casa das Rosas - SP