sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A CIRCUNSPECTA

Na manhã:
Eu tenho que fazer algo por mim, urgente. Antes que a autosabotagem entre no lugar da paciência e da mezzo autoestima e ali inverne como um urso. Pois é sempre assim para quem tem um segredo de desabrochar na descoberta do devir: uma dúzia de planos e ousadias que dançam conforme os passos do recuo.

À tarde:
Explico-me melhor justificando a covardia: meu gênero foi acuado na historicidade e não vejo isso como uma fatalidade, pois nos desenvolvemos nos manejos da manobra do existir, ou seja, se não podemos, burlamos através do olhar nervoso, do toque das mãos suadas, da intenção que corrompe, docemente, quem nos guarda.

À noite:
Sofrimento infantil, diria você impaciente, mas que neste momento, por eu entender um pouco mais sobre a fidelidade, não me corrompo e transformo o meu corpo em uma árvore ancestral.

À noite dentro de um sonho:
'É só passar batom, minha filha, que a febre de pulsar as suas verdades passa!' - diria você a respeito das minhas indiossincrasias. Aceito o conselho - mas pela metade!
Então o meu lema é: sair à noite eufórica e concentrada, equilibrando-se no sapato alto, para atravessar pontes que me levam a mim mesma, que um dia estilhaçou-se mas que agora volta a vicejar como um jardim.

Na alvorada do dia seguinte de frente pro espelho:
Gosto de pensar em penteados e cortes de cabelo como prolongações das minhas ideias clandestinas, que me fazem crer em uma liberdade que me foi concedida um dia, mas que agora é apenas pegadas que sigo ansiosa e alegre como uma criança.
Não, não me julguem como aquela que deseja fugir da realidade. Pelo contrário. Hoje em dia, sou suficientemente, apaixonada pelo o que tenho de forma tão obsessiva que a minha ação é apenas a de colar os ouvidos nas células da vida onde ocorrem as transmutações.

É salutar fazer algo por mim, para ficar em paz com aquilo que aponta para os indíces do que fui-sendo, nesta bela jornada.