quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

MONTA E DESMONTA/QUEBRA E COLA

Não deveria escrever neste estado. Acho que isso não é aconselhável, deve atrapalhar a escrita. Digo, estar assim, à-flor-da-pele. É muita víscera e paixão para uma mulher só, então, levo do jeito que dá a alma, a qual me foi destinada. Não resisto mais, deixo ser o que sou, quero me tornar uma expert em mim mesma, assim recebo o que exploro com os sentimentos e juro, dói e lava como a sensação de tirar uma flecha do peito. E foi isso, quando percebi que ele estava muito velhinho e amedrontado. Quem? Meu pai. Um homem que viveu bem, com todos os desafios e limitações, assumiu responsabilidades gigantescas muito cedo e creio que, nessa história toda, esqueceu um pouco de si mesmo. Hoje, desejei mais do que nunca que estivesse feliz. Nada demais, só estava borocochô, é a vida e o tempo, bem sei. Só que o que doi ali, doi aqui. Também sei que não é diferente de mais ninguém. Mas olha, depois de ter vislumbrado essa precariedade obscena que é viver é preciso assobiar, no meio da noite, um sambinha. Meu Deus! Como somos frágeis! E acho que, exatamente, por isso somos orgulhosos e fingimos durante muito tempo o tudo-bem, amanhã-eu-serei-mais-o-que-desejo-aqui-no-fundo. E passam dois, três, quatro anos e mal abraçamos quem amamos. Por isso optei por um coração que monta e desmonta. Que quebra e cola. Acho muito, mas muito mais condizente com a vida loka - ótimo isso, né?: vida loka. Portanto, hoje, ao ouvir minha mãe falar sobre meu pai, ri, mas era de nervosismo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

INSIGHT PROFUNDO

Depois do inverno, sempre vem a primavera!

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

CADA UM É UM PACOTINHO...

Olha que coisa engraçada: esses dias eu estava folheando o caderno Cotidiano e lá, no final, na seção de óbitos, encontrei um texto - perdoem a minha sinceridade - interessantíssimo: o falecimento de uma profa. da USP, que tinha como maior preocupação continuar lúcida até o fim de sua vida. Pensei: "Mulher digna". Lembrei-me, imediatamente, de Clarice Lispector, que também tinha uma certa preocupação com a sua sanidade mental. Pensei: "Razoável", até porque isso não bloqueou a sua criatividade. Mas isso me fez pensar, nas indiossincrasias, das pessoas: suas fantasias, seus medos, etc. Cada um com o seu: tem gente que tem medo da solidão. Tenho um amigo, por exemplo, que toda vez que falo com ele, ao telefone, e digo que fiz algum programa sozinha, ele suspira e me interrompe antes de eu terminar a frase:"...Zinha, Ariane? Mais uma vez sozinha?" Não que eu não tenha esse medo. Adoro estar ao lado das pessoas, principalmente, daquelas que gosto, mas não tenho esse receio. Fico de boa sozinha. Essas semanas de janeiro, desde que voltei do interior, passo às tardes sozinhas: lendo, procurando um apto. para morar, devaneando, escrevendo, cozinhando, indo ao cinema, fazendo compras no supermercado, visitando livrarias, arrumando a casa, etc. E sozinha. Às vezes, até mesmo chego a me assustar: não ligo para ninguém, dificilmente. As pessoas, graças a Deus, me procuram, mas também, raramente, para bater papo e sim para pedir algum favor ou convidar para algum programa. Conclusão: até vivo bem, na solidão. Tem gente que tem medo de se perder por aí, digo, caminhando. Eu, apesar de ser avoada, consigo chegar onde quero, não me apavoro, vou ouvindo música até que chego, no destino. E tem gente que tem medo de não ter emprego, olha, confesso, que esse eu tenho, pois a sensação de inutilidade, para mim, é terrível! Por isso não paro quieta um minuto. Odeio imaginar que não sirvo para nada, fora que uma das coisas mais bonitas que se tem é ver as pessoas trabalhando, criando. Acho visceral e mágico todo esse processo de transformar aquilo que não era em algo outro que é. Caraca, isso me dá uma imensa satisfação! É possível ver o potencial da pessoa, suas habilidades, seus domínios, seus pontos fracos e como cada um à sua maneira contribui para a sociedade, a cultura. Portanto, tenho medo de ficar sem emprego. Outra coisa, tem gente que tem medo de gato. Até entendo. Meu pai, por exemplo, só veio me visitar uma vez, por causa da Charlotte. Não gosta. Tem medo. Assim como outras pessoas. Li uma vez, na internet, que quem tem medo de gato evita entrar em contato consigo mesmo, pois o gato é aquele animal, extremamente, intuitivo que se liga com o que está oculto, nas pessoas, e quem não se conhece muito bem projeta no animal todo o desarranjo da inconsciência dos seus próprios instintos. Será?
Tem gente que tem medo de ser feliz! É, e confesso: às vezes, eu jogo nesse time, dou uma leve sabotadinha em mim mesma para não acreditar que aquilo que eu desejava está sendo correspondido. Na verdade, é insegurança, é falta de confiança: será que é isso mesmo? Que tá dando certo? E dou umas escapadas pela tangente. Meio peixe grande mesmo, fazer o quê, né? Mas volto para o lugar e aos poucos assumo a responsabilidade. Ou não, fico comendo pelas bordas até a situação se definir pelo acaso, que coisa!
Pois é. Cada um com o seu pacotinho. Com suas indiossincrasias. E respeitá-las e respeitar a do outro já é meio caminho andado para se viver melhor. Mas como é difícil, não? O que pode parecer divertido e banal para você, para o outro é motivo de vergonha e desespero. Ficar lúcida até o fim da vida? Acho importante, mesmo. Ficar sozinha? Adoro, muitas vezes. Se perder caminhando? Me viro, não nasci quadrada. Ficar sem emprego? Pavor! Gatos? Amo-os (profundamente). Medo de ser feliz? A-pren-den-do.

domingo, 3 de janeiro de 2010

NOTURNA

No deserto, somos convidados à selvageria. Alguém disse amor? Fim da linha e desterro para os desavisados. O esqueleto começa a levantar-se pedindo carne. Sobreviveremos e seremos felizes. "Suporte o que vê. Banque o que sente." - ela diz ao meu ouvido, já trançando os meus cabelos. Talvez, faremos uma fogueira para nos aquecer. O céu estrelado são os mil olhos de minha mãe falecida que me protege. Fique tranquilo, a noite sempre me pertenceu: danço por toda uma geração de mulheres e agora, peço, gentilmente, que sente ao meu lado. Comecemos a nossa história, deixe os animais a nos ensinar o que esquecemos. Carne? Exílio é amar e ser correspondido, foi o que disse quando me viu refletida, no regato. No deserto, ganho, venço, terra natal, onde volto para reaprender a ser minha e do mundo e agora, sua, meu amor.