segunda-feira, 26 de abril de 2010

DIAMONDS

Um dia, num período bem difícil da minha vida, eu desenhei dois diamantes. O primeiro estava fragmentado, o segundo - a uma certa distância - estava recomposto. Interessante. No meio deles, havia o tempo, o qual representei com símbolos das estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. Era como se eu já soubesse que aquela fase, por mais difícil que fosse, passaria, e que deveria me recolher e me reorganizar: havia perdido a minha vida mais profunda e agia sem consultar a minha alma, na tentativa de diminuir a minha solidão, a minha fome espiritual e o meu temor de construir a minha própria vida, feita à mão.
Estranho, pois como, num período, tão difícil encontrei tanta coisa boa?
Ao mesmo tempo que havia dor e ansiedade para um recomeço, feito de responsabilidades até então negligenciadas pela minha imaturidade e indolência, novos caminhos foram percorridos e mais do que nunca vi o quão preciosa era a vida: tomei banhos longos e deliciosos, caminhava pelo bairro de Pinheiros, em busca de maquiagem e de perfumes - lutava pela minha beleza; comecei a cozinhar e mastigar lentamente; olhei mais as pessoas nos olhos e amei um homem com toda a minha dignidade reinstaurada - e sou grata a ele por tudo o que me deu naquele período - mudei-me de apartamento e conclui apaixonadamente, a minha graduação... Enfim, em meio aos choros às escondidas, quando era pega pelos meus medos e pela surpresa de me redescobrir e ter muito o que enfrentar, solitariamente, mas com muita fé, criei uma nova vida honesta. Fui corajosa o suficiente para não fugir e dar a mim os remédios necessários. Enfrentei diagnósticos sozinha e não permiti sentir pena de mim mesma, pois eu só queria voltar a respirar bem como qualquer ser humano.
Enfim, acho que, intuitivamente, sei voltar a minha casa, aqui dentro, e não há nada e ninguém que poderá tirar-me o que conquistei: a minha vida profunda, criativa, feita de repousos, ousadia, instinto, amor, raiva, esperanças... Uma dieta perfeita para quem quer renascer: diamantes eternos.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

I LOVE BLACK BIRDS...

Imagem 1: meu peito partido, ao meio, no fio, andorinhas descansam, prestes a voar.
Imagem 2: meu peito partido, ao meio, três andorinhas partem, duas ficam enamoradas.
Imagem 3: meu peito partido, ao meio, uma fica, sozinha, partida, ao meio.
Imagem 4: meu peito partido, ao meio, vazio, tumtum...tumtum...tumtum... Livre, vou até você.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O certo Cavalheiro Branco

O prazer. Há de suspender, primeiro, o regalo. O excesso é grosseiro, turva a capacidade de fisgarmos, no coração, o céu azul das delícias - daí, a quase-disciplina do gozo.
Não sei por onde andas. Odeio platonismo, sou propensa à ferocidade dos encantos. Lembras?
Era inverno. Água & chá. Azulejo sua? Gotículas, nas minhas têmporas; saúde, nos teus lábios. Deixei o telefone tocar, fumegávamos, na suspensão do hiato, do retornar a zero, e por isso lhe digo: o mistério está nos limites do corpo. Por onde andas?
A conta gotas me dou aquilo que me emprestara por alguns meses. Com coragem, rasgo o voil da fantasia, evitando me entorpecer da gente e ao receber notícias tuas, sussuro o meu descaro: "Sacrilégio seria anuviar o desembaraço do teu sorriso, enquanto despedia-se à porta...".
Corra, venha ver o que abriguei, nesta caixa: frames do nosso tempo. Congelei um pouco daquilo. Coerência na gente? A busca está no vazios. Lembrança 1: a camisa branca, teu índice fatal. Lembrança 2: meu colar de pérolas caído, no chão, meu índice fatal. Lembrança 3: ...
Por onde andas, tu? Preciso lhe contar a minha tática: tornei-me um recato de moça para lhe superar e reencontrar-te, no próximo anel do espiral do nosso tempo. E assim, digo: não suma para sempre, volte a me fisgar, no fundo do teu coração, onde sorvo, suavemente, nossos prazeres.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

RECICLANDO-SE

Redefinir limites de si próprio é uma entrega crucial, convidada a cada ciclo, sutilmente. É quando nos sentimos áridos e algo clama, sussurra: "Você poderia sorrir... O que foi roubado? Aviltado? Reconstrua-se!" E um novo "eu" quer vir à tona, mas ainda lutamos contra esse desnudamento, preferimos deixar para outro dia o remédio necessário. Mas é preciso voltar ao lar. "Para onde vou, quando todas as ilusões foram pulverizadas, subterfúgios descontroídos?" Agir como antes não é mais possível, pas-sa-do. E daqui para frente? E a minha melhor parte pede apenas silêncio até que volto a caminhar, em direção daquilo que me cura. Não preciso ter. Nem ser. Já sou. E sempre serei. E, em flashes, me vejo sentada, em uma clareira, ao redor das minhas próprias pegadas. O mundo já não é mais o mesmo. E reaprendo costurar as minhas próprias feridas, cantando bem baixinho, celebrando com delicadeza a alegria de exisitir, pois sei que sempre é mais possível. E aos poucos, volto a sorrir.