terça-feira, 27 de setembro de 2011

LINGUAGEM

A vírgula, que separa o sujeito do predicado, é uma pausa para respirar e reorganizar o caminho. Seu intento é criar suspense para transgressão. Meu sujeito é errante, ele não se complementa de forma previsível, o seu maior sabor é o dissabor. Aliás, o meu sujeito é sujeita. Novamente, recapitulando e recriando-se: sou a Sujeita  determinada que prefere usar verbos transitivos diretos e ser simples. Dificilmente concordarei com reducionismos de qualquer grau e se me julgam por ser verborrágica, digo-lhes: papibaquígrafos!

domingo, 18 de setembro de 2011

AMÁLGAMA

É importante a ordem dos fatos? Não.Vou direto ao essencial. A foto, que tenho em minhas mãos, evidencia a amálgama dos nossos sentimentos e de nossas histórias pessoais, que se cruzaram em determinado momento. Ou melhor, em determinados momentos. Determinados, pois, enquanto vivíamos esses momentos, toda a experiência de sermos nós, parecia ter um propósito. Não haviam dúvidas. Éramos cartesianos, nas pequenas promessas que fazíamos um ao outro, sem medo do futuro. Naquele período difícil, tanto para mim quanto para você, fomos capazes de criar um espaço para nos perscrutarmos com respeito e admiração: a minha fraqueza (havia perdido minha irmã que falecera da mesma doença que matara a minha mãe), em seu coração, era como uma joia dentro de um cofre, perdido no fundo do mar; enquanto, os seus dissabores (você estava arrasado por ter perdido o emprego) eram o ponto de partida para eu lhe acalentar, nos meus braços, como se eles também fossem pequenas joias a serem polidas todos os dias, para restabelecer uma beleza inata. Mas (sempre há um mas), tivemos que nos separar. A sua vida urgia para continuar a ser o que anos cultivava, em segredo, pois ao mesmo tempo que estava triste por não ter mais o  emprego, estava eufórico para iniciar outra fase em sua vida.  Sabia, de forma aflita, que o seu próximo passo seria libertador, inclusive, de mim. Você, resoluto, sem mais desculpas, se trancafiaria, no seu quarto, e se dedicaria ao seu sonho: escrever romances. Mas isso nos impede de estarmos juntos? Foi o que disse, quando, naquela manhã fria, no apto. de seu amigo, você fingiu não me escutar. Apressado, vestindo o casaco ao mesmo tempo que lia as manchetes dos jornais, me enviava mensagens subliminares para eu partir. Haveria outra pessoa em sua vida? No período, que estávamos juntos, nada levava a esse questionamento. Repeti novamente: vamos continuar juntos? Silêncio e prudência. De fato, achei melhor não me responder, estava cansada de lutar por nós e você sabia disso. Ao menos, a hora do café da manhã, na padaria, ainda seria um refúgio para nós. Naquele momento, a minha defesa, para suportar a nossa separação, foi acreditar que tudo voltaria ao lugar quando você se tornasse um escritor reconhecido. Mas, agora, passados seis meses, com essa foto em minhas mãos, sem saber do seu paradeiro, pouco sei quem é quem. Éramos, simplesmente isso: éramos. Eu topei viver aquele ano como sua querida companheira. Você me deu o que tinha. Absorvi seus hábitos e indiossincrasias de forma discreta: seu café sem açúcar; as vagens, borbulhando na panela, às quarta-feiras, após a feira; sua teoria incompleta sobre a existência de deus, que me tirava gargalhadas, pois quando começa a discorrê-la o enxergava como um garoto ingênuo e ousado. É isso. Absorvi tudo e, agora, com essa foto em minhas mãos, não sei como recomeçar.