domingo, 30 de agosto de 2009

UMA LONGA CAMINHADA

Aos 17 anos sai do interior de São Paulo, Araçatuba, para fazer faculdade de hotelaria. Se era isso o que eu queria para minha vida? Não sei. Ou melhor, não sabia e nesse pouco saber encarei com coragem e ingenuidade a mudança de deixar uma cidade de 180 mil habitantes para uma de 11 milhões. Mas é claro que não media as diferenças dessas duas realidades assim. Media com coração os exageros de uma - São Paulo - e a pequenês da outra - Araçatuba.
A av. Paulista era grande demais comparada à av. Brasília, que nem sequer tinha aqueles prédios empresarias e bancos, assim como imensa era a saudade que sentia por ter deixado família, amigos e namorado.
Trocar a proximidade de tudo - de ir a um lugar a outro - foi mais fácil aceitar do que trocar um jeito de ser. Pois é, não é que houve uma troca, na verdade, houve um desnudamento de alma. No segundo ano de São Paulo, percebi que o interior sempre foi muito pequenino para mim, digo com relação às minhas ânsias. Lá sofria por não saber o que me faltava, o que apenas somente com a minha vinda para cá - estou na capital paulista, atualmente - pude identificar: no geral, os espaços e as pessoas.
A adolescência cinza que tive em Araçatuba - tirando o valor das amizades - estendeu-se até mais tarde, em São Paulo, mas, nesse momento, colorida regada à baladinhas undergrounds, cinemas cults, leituras noturnas, amores felizes e conturbados, momentos excitantes e de solidão e incompreensão de si mesma profunda. Mas sabia: aqui, é o meu lugar. E daqui não tiro o pé. E nem a mão. E nem o ouvido. E nem o coração. E comecei a botar a prova tudo o que eu amava: o curso de Letras, os espaços que me faziam muito bem - baladenhas, bares, museus, lojas de roupas e livrarias - as pessoas que amei, as perdas e as conquistas, para ver no que daria e deu... EM MIM, no que me tornei.
Continuo achando que aqui é o meu lugar: que o trabalho que tanto almejo acontecerá aqui, que o homem com quem dividirei um sonho de ter uma família também está aqui - não sei onde, talvez já o conheça, talvez não - , que o jardim, no qual poderei ficar estendida com a Charlotte lendo um livro, também está aqui.
Araçatuba é legal. Mas não me comporta. Não que eu seja ambiciosa, mas já sei - as coisas cada dia que passa estão se tornando mais claras - do que preciso, do que alimenta meu espírito e isso só São Paulo pode me dar. Merci São Paulo!

sábado, 29 de agosto de 2009

RODA DA VIDA

Engraçado. Nos dois últimos posts, havia uma euforia otimista a tudo que tenho realizado e realizarei. Hoje, e, nos últimos dias, tenho sentido um receio da vida. Receio? Um pouco ansiosa, surpresa com o desenrolar das coisas e às vezes, com algumas dúvidas. Estou fazendo as escolhas certas? Para onde estou indo? Procuro respirar e continuar caminhando. Definitivamente, viver é um mistério. Sei que isso está muito próximo a uma mística de botequim, mas sinceramente, tudo isso ultrapassa o meu entendimento. Digo: viver. Não sei de fato o que me faz ter a identidade que tenho. Muitas vezes opto pelo difícil, pois sei que somente passando por isso amadurecerei e terei uma vida mais plena à frente, com a minha cara. Só que, às vezes, isso se torna uma névoa. Como dar forma a algo que apenas sentimos e ficar no grau zero da vida? Aceitá-la, caminhar e desfrutar ao máximo de todos os momentos.
Acho que nisso tudo, descobrimos valores incomensuráveis como: a amizade, a família, o amor, a esperença, a fé, a compaixão, a alegria, a benevolência e claro: a ousadia - sempre. E nesses momentos é uma dádiva termos alguém que nos acolhe, que ri das nossas atrapalhadas e é nesse momento que descobrimos que não estamos sozinhos nesse mundão de meu Deus! Que tem uma torcida atrás de você dizendo: vai, você está quase lá... Lá?
Sim. Mais perto do seu sonhos, mínimos que sejam, mas valiosos e que só você sabe.
A vida é rica, cada dia é uma possibilidade de desabrocharmos e lidarmos com os nossos sentimentos de maneira diferente. O receio? Quem não tem? Mas faço dele o combústivel para a minha estrela dançar!

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Feeling Good

Sabe, ultimamente, a vida está sendo extremamente generosa comigo. Nem falo tanto de algumas conquistas, mas de algo misterioso que vem de dentro da alma. Sinto um frescor, é como se eu tivesse caminhado durante a noite toda, até que quando o dia amanheceu -uma linda aurora! - me deparei com um riacho e por estar cansada, me deitei à sua margem, encostando os dedos na água, sentindo o frescor invardir-me, enquanto borboletas sobrevovam a minha cabeça.
Assim, quando ouço Feeling Good, na voz de Nina Simone, minha alma parece transbordar, é como se viesse à tona a lembrança de um lugar desconhecido, mas sei que já o habitei e agora, estou a caminho de volta. Portanto, deem uma olhadinha na letra para verem se não tem tudo a ver. Se der, baixem a música, é linda.

Feeling Good

Birds flying high you know how I feel
Sun in the sky you know how I feel
Reeds driftin on by you know how I feel
(refrain:)
Its a new dawn
Its a new day
Its a new life
For me
And Im feeling good
Fish in the sea you know how I feel
River running free you know how I feel
Blossom in the tree you know how I feel
(refrain)
Dragonfly out in the sun you know what I mean, dont you know
Butterflies all havin fun you know what I mean
Sleep in peace when day is done
Thats what I mean
And this old world is a new world
And a bold world
For me
Stars when you shine you know how I feel
Scent of the pine you know how I feel
Oh freedom is mine
And I know how I feel

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Oriente e a minha vida...

Comecei a Yoga faz duas semanas. Um barato. De início, fiquei bem receosa, havia algumas posições - como a de jogar a perna todinha para trás, encostando os pés no chão - que realmente me metiam medo. Mas me permiti. Assim como, aceitei de uns tempos pra cá, que o meu espírito reage mais ao budismo do que ao cristianismo.
Na verdade, o ano passado todinho li muito sobre o budismo, visitei alguns centros de dharmas e templos, até que por fim resolvi praticar o culto aos meus ancestrais em casa mesmo, o qual é necessário a leitura do Sutra do Lótus para se obter as realizações e o desenvolvimento interno.
Acho realmente interessante o fato de me sentir mais próxima da sensibilidade do oriental - do asiático - do que do ocidental quanto à espiritualidade - mesmo tendo um pai, filho de japoneses -, pois, em casa, apenas o catolicismo era praticado por minha mãe que tem ascedência italiana.
Acredito que Deus é um só, assim como nós somos UM no que concerne às questões mais essenciais, mas quando tenho que pesar como responder ao Universo meu compromisso para com ele, acabo por reagir como uma asiática: as questões de carma, do bem e do mal, a Vida/Morte, as sucessivas existências, etc.
Assim, quando iniciei as aulas de Yoga, o cheiro do incenso, o Puja (transmissão de energia), os mantras, a música indiana e algumas passagens da filosofia da Vydia Yoga Asharam me soaram muito coerentes.
Os exercícios de respiração são fantásticos (os pránáyamas), assim como as posições psicofísicas (os ásanas) e a cada aula o estranhamento vai dando lugar a concentração e a sensação de bem-estar. Algumas contorções da coluna são um desafio, mas quando o corpo se encaixa e você para de lutar contra o sofrimento e o aceita com paciência - prestando atenção na respiração - você fica mais alerta a entender um pouquinho mais sobre si mesmo e o seu corpo.
Hoje, ao fazer uma posição, a lateroflexão, foi surpreendente como o meu corpo respondeu a ela. A professora foi até mim, forçou um pouco mais a contorção - pensei que ia morrer ! - até que de repente: puxa! Não é que estava me sentindo bem? E tornando-me consciente de que posso ultrapassar algumas barreiras? Que barato.
A aula termina com visualizações bem positivas, como a da aula passada que tivemos que imaginar um lugar que mais gostamos de ficar e ali fazermos algo que realmente gostaríamos de estar realizando.
É isso. Aí eu coloco os sapatos, dou tchau pro pessoal - até semana que vem... - vou ao supermercado e compro flores para colocar, no altar budista. E assim, o Oriente vai ganhando espaço, cada vez mais, na minha vida.

Namu Myôhô Rengue Kyô.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

CONQUISTAS...

Hoje, tive a resposta do pessoal da secretaria da Pós-Graduação da PUC/SP. Pois é: consegui a bolsa do mestrado. Uau! Como estou feliz! Lembro-me de, exatamente, no ano passado, estar sentada, em frente do computador da A Cor da Letra, esboçando o meu pré-projeto. Para quem não sabe, a minha área de atuação de trabalho está relacionada à leitura, principalmente, a literária.
Em 2008, participei como técnica do projeto Prazer em Ler - Escolas Públicas, que tinha como objetivo capacitar professores, coordenadores e alunos como mediadores de leitura a partir de uma perpectiva cultural e não meramente alfabetizadora.
A experiência que tive foi tão rica, assim como os encontros com as pessoas durante esse ano, que seria uma grande burrada não transformar isso em mestrado. Então, pouco a pouco, após voltar de um longo dia de trabalho - pois fiquei responsável em acompanhar 9 escolas do extremo sul de São Paulo - esboçava sobre a minha escrivaninha os problemas relacionados à leitura literária, os quais gostaria de compreender, com mais profundidade, em uma pesquisa.
O fruto foi tornando-se maduro. Encorpado. Viçoso. Passei no mestrado, ampliei o projeto para concorrer a bolsa e, agora, graças a Deus, fui contemplada.
Acho isso tão interessante: a inquietação, nas aulas de literatura - sempre questionava alguns métodos - me levou a ser técnica do Prazer em Ler-Escolas Públicas, assim como aluna ouvinte no Programa de Linguística Aplicada da PUC/SP em leitura e letramento, para posteriormente confluir o conhecimento teórico com o prático, transformando-o em projeto de mestrado.
Uma coisinha dentro de outra que leva à outra e assim por diante... Como as bonequinhas russas que tanto amo!
Repito sempre a frase de uma pessoa, a qual tenho uma afinidade espiritual considerável: "O que é teu é teu, ninguém tira. Apenas te prepara para vivê-lo com sabedoria! Integra-te".
É isso. Não vejo a hora das aulas começarem. Da vidinha acadêmica desenrolar... Viver o que tenho que viver, aprender, ensinar.

Good Luck !

domingo, 9 de agosto de 2009

HISTÓRIAS...

"As histórias são bálsamos medicinais. Achei as histórias interessantes desde que ouvi minha primeira. Elas têm uma força! Não exigem que se faça nada, que se seja nada, que se aja de nenhum modo - basta que prestemos atenção. A cura para qualquer dano ou para resgatar algum impulso psíquico perdido está nas histórias. Nas histórias estão incrustadas instruções que nos orientam a respeito das complexidades da vida. As histórias nos permitem entender a necessidade de reerguer um arquétipo submerso e os meios para realizar essa tarefa."
Clarissa Pinkola Estés

Ontem, fui à livraria da Vila parabenizar uma amiga letreira. Com o título de Contos de irmãos: histórias de coragem, aventura e astúcia, Ana Carolina Carvalho, Lili, iniciou-se como escritora nos presenteando com algumas histórias de irmãos. Diferente das que conhecemos, as histórias escolhidas por Lili tratam do relacionamento fraterno a partir da união, solidariedade e cumplicidade.
Os contos estão divididos, em três eixos: Um pouco como João, um pouco como Maria; Cuidado com a madrasta!; e Diga-me teu nome e te direi que és. No primeiro eixo, os contos são do Peru, Angola e Portugal, como introduz a própria autora: "Nestes três contos, você vai se emocionar e sentir uma pontinha de medo com as histórias de irmãos que se perdem na floresta. Em meio a tamanha aventura, eles precisam se unir para sobreviver e vencer os perigos da selva, as maldades de uma bruxa e de outras criaturas fantásticas".
No segundo eixo, os contos são do Brasil e da Itália: "Nestes contos, duas duplas de irmãos enfrentam um perigo que mora sob o mesmo teto. Como muitos enteados dos contos de fadas, os irmãos destas histórias não tiveram nenhuma sorte com o segundo casamento do pai e penaram nas mãos de madrastas nem um pouco maternais."
No terceiro eixo, os contos são da China e da Sibéria: "São dois contos de regiões quase vizinhas. E de famílias muito particulares, pois, em cada uma delas, os irmãos fazem juz ao nome que têm: cada um carrega na identidade o poder que lhes salvará a vida, proporcionando caça em dias gelados de inverno ou recuperando a dignidade perante um imperador cheio de ganância e sem nenhuma razão."
Achei bárbara a lacuna temática escolhida por Lili. Em tempos como os nossos, retomar virtudes, como a coragem, aventura e astúcia perpassadas pela fraternidade, nas histórias, é de extrema importância, afinal, uma andorinha só não faz verão!
Como dedicatória escreveu: "Para querida Ariane, são as histórias, afinal, que nos fazem todos irmãos." E de fato é. Para mim, as boas histórias nos colocam no mesmo chão psíquico-espiritual: o leitor pobre, o rico, o homem, a mulher, a criança, o ignorante, o intelectual - não importa quem esteja lendo - encontrará na narrativa uma experiência comum: os medos que precisam ser ultrapassados, os amores que precisam ser vividos, a injustiça que precisa ser denunciada, o que nos faz lembrar que todos somos UM, seja na Angola, Brasil, China, Itália, Sibéria, Peru e Portugal.
Histórias são mapas do nosso próprio coração e do outro. Requer atenção generosa e disponibilidade para acolher os imprevistos - nem sempre é gostoso nos indentificarmos com algumas passagens da narrativa. Mas são elas que nos alertam dos perigos da vida, que nos faz lembrar como devemos proceder diante de um conflito e o mais importante: que a vida é um processo ad infinitum de aprendizado.

SUGESTÃO DE LEITURA: Contos de irmãos: histórias de coragem, aventura e astúcia de Ana Carolina Carvalho, ed. Moderna

sábado, 8 de agosto de 2009

TPM...

Confessemos: tem dia que acordamos um cocô. Foi o sonho que não foi bacana. A conta bancária que encurtou de repente - mesmo no início do mês. A resposta lacônica de quem você mais gosta ao telefone. A família distante. A descoberta de um quilo e meio a mais na balança, entre outras coisinhas que vão somando-se silenciosas até você dizer: chegaaaaaaaaaa! Aí, eu começo: querida, sem alarmes, a vida continua mansa mansa... Como um boi pastando. Como uma foca se rastejando. Como o cochilo do bebê.
Aí, eu paro: recomeço. Suspiro. Charlotte me olha aflita. Vou à cozinha, preparo um café, de repente escuto alguém me chamando no msn: vai ao sair hoje à noite, ou não? Ai, quanta indelicadeza! Vai sair hoje à noite, ou não? É necessário expressar-se assim?
Dizem que sou sensível demais. Carente demais. Espero demais. Vivo demais. Exagero demais. Mas puxa!: custa um: oi? você está bem? faz tempo que não te vejo, gostaria de lhe ver hoje à noite... Enfim, sou do time que embrulha os sentimentos em folha de papel manteiga. Dos que escutam a história alheia como uma epopeia. Dos que sofrem com os outros mesmo estes muitas vezes nem saberem que estão sofrendo. Sei que não deveria cobrar nada, mas às vezes é duro, muito duro e o mínimo que se quer é compartilhar mimos, atenções generosas, flertes com o nada que é tudo quando se está em comunhão de espíritos. Enfim, são delicadezas mínimas que fazem a alma revigorar. Não. Não vou. Porque sou birrenta. Rebelde. Saliente: acho que estamos nos de-se-qui-li-bran-do... E o dia torna-se mais arrastado. Todo torto. Solitário. Silencioso. Charlotte dorme: como é bom ser gato - já combinei com ela, na próxima encarnação, ela é que será a minha dona! Sento em frente do computador, começo a trabalhar. Como o dinheiro tá curto... Aí eu recomeço: querida, sempre foi assim! A vida continua mansa mansa... Como sementes de feijão aconchegadas no algodão. Começo a rir da minha rabujice! Toca o telefone, vou até o quarto, na parede de casa, no mural de recados, encontro a seguinte frase: A esperança é como âncora para a nossa vida (HB: 6, 19). É início de noite, atendo o telefone que nem para mim é. Anoto o recado, enquanto a frase na parede ainda está inaudível. Ligo a televisão e espero o dia de amanhã.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Já se sentiram assim?

Abrigando, dentro de si, uma noite escura estrelada, inspirando uma brisa noturna, que torna o calor da primavera delicioso? Caminhando sem rumo até encontrar uma árvore frondosa e, como uma criança ao ver a matriarca da família, rende-se a aninhar-se na confiança que nos torna mais quentes: raízes viçosas? Despertando para o amor de um homem capaz de reconhecer os diamantes cravados em seu peito? Cavalgando na escuridão, mas sendo guiada por um cão dourado que alguns metros à frente prenuncia o caminho da sua bem-aventurança? Embalando seu filho recém-nascido, que dorme os mistérios dos anjos? Esnobando distração por ser protegida pelos espíritos de seus ancestrais? Festejando, ao redor de fogueiras, em pujas tibetanos, com mulheres primitivas, o início do verão?
Tudo! Tudo e mais. Dentro de si. Enquanto, cava-se, cava-se adentrando-se em seu próprio mundo subterrâneo. A denúncia? O brilho dos olhos que confessa a exuberância de estar próxima à natureza selvagem.