sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PENSAR... PENSAR...

Descobri que uma das coisas que mais amo é o pensamento. Amo pensar. Por isso amo ler. O pensamento é uma coisa muito engraçada, ele pode ser um devaneio esteta, um insight que te salva, mas também pode ser longo, sistematizado e difícil. Organizado. Com continuidade rigorosa. É por isso que amo os livros, desde a capa à contra-capa, pois são os pensamentos concretos, possíveis de se manusear, dos escritores, psicanalistas, artistas plásticos, professores, que mais admiro. É incrível: é a representação do mapa da vida de cada um, através do qual navegeu para construir sua teoria, e é por isso que tem que ser convidativo, até corajoso, para irmos juntos a lugares difícies, mas acima de tudo tem que ser belo. Por isso amo Dostoiévsky. Portanto, eu só embarco depois de sacar o humano por trás disso tudo, pois não deve haver uma frieza de raciocínio, um egoísmo de gênio, uma falta de ética para com a cultura humana, ao contrário, o pensamento, representado, na escrita, garante-me se deixo, ou não ser fisgada, e para isso, Barthes já dizia: é necessário que se crie uma zona de sedução entre o leitor e o autor, é necessário dragar o leitor! Enfim, eu adoro pensar, por isso amo ler, tanto quanto correr de manhãzinha, na Sumaré, ouvindo a trilha sonora da Amélie Poulain, Bill Callaghan, Phoenix, Hurtmold, Flamming Lips, John Frusciante, Bob Marley, etc. Mas isso já é outra história.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

VALEU A PENA?

(...)
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.


Fernando Pessoa

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

CANSADA DE PERGUNTAR: por quê?

Tem uma hora que descobrimos a inutilidade de fazer perguntas. Viva. Agora. O banquete está servido. Mas ficamos cegos com tanto embaraço, que cultivamos, ao longo da vida. Apenas sinta a brisa. Aos poucos, voltamos a enxergar, a ouvir e falar corretamente e isso se faz com o coração.

A CEIFADORA

Eu gosto de tirar carta de tarot, na internet. Acho interessante e respeito todo o ritual, que indicam, no cabeçalho: respire fundo, peça orientação para o seu dia, leia com atenção. Hoje, tirei a morte. O ceifador. Não fiquei surpresa, pois de fato é dela que preciso, nesse momento, de minha vida. Preciso desapegar-me de coisas que não fazem mais sentido: o passado, os sentimentos, as sensações, as buscas incompletas que não têm muito a ver com o que eu anseio - mesmo não tendo isso muito claro. Mas intuitivamente, sei por onde caminhar, como todos nós, no fundo, sabemos. Mas é necessário coragem e amor. Dar adeus e deixar as cascas cairem para irmos ao encontro do que viemos, nem sempre é fácil. O que virá em seguida? Temos que, simplesmente, acreditar. Eu, que sou budista, busco ver a morte como mais um fato da vida. Uma passagem. E numa observação mais micro, vejo que a morte está presente em tudo, não só quando deixamos de fato de viver. Ela está, principalmente, quando temos que dar adeus a padrões que não nos cabe mais, quando temos que, por mais estranho que pareça, dar adeus a algumas pessoas que amamos e quando temos que aguentar o peso de escolhas, que no início não parecem ser plenas de sentido, mas aos poucos as coisas vão se delineado. Isso é morrer e renascer. E esse convite é feito a nós todos os dias.
A vida é um jardim de fato. Por isso, ultimamente, tenho observado mais as flores, as gramas, as árvores, etc. Acho que por isso o nome desse blog é my pillow is the grass. Temos que cuidar do nosso jardim todos os dias e cultivar estados mentais e sentimentos positivos. Sei que não é fácil. Mas não temos que banir a sombra, nem o contrário: fazermos apologia a ela, a fim de encontrarmos sentido aquilo que nos fere - é uma maneira de lidar com a dor. Acho que o mais simples- como tudo na vida - é o mais difícil de fazer, ou seja, deixarmos ela ser o que é e integrá-la da forma mais adequada. E isso nem sempre é fácil. Quando cai as máscaras e vemos o nosso lado sombrio, temos vontade de nos abandonar. E o que é o feio? Nossa solidão, nossos preconceitos, nossas infantilidades, nossos ódios, nossa fraqueza, nossa mesquinharia, nosso egoísmo, nossa falta de amor para com nós e os outros... Queremos negar isso. Mas isso também faz parte da vida, o que fazer então? Acho que o desafio é ficar com isso também. Observar. Buscar não se envolver. Amar e transmutar. Acredito no potencial infinito de transformação do homem. Estamos aqui para aprender a viver, mas também para aprender a morrer. Tem uma autora, a qual dá a seguinte dica: pergunte o que tem que morrer em sua vida e o que tem que viver todos os dias. Uma boa dica. Quero dar adeus a alguns obstáculos, que eu mesma criei. Não há mais algoz e nem vítima, e nem, na clínica, atualmente, se busca isso. A responsabilidade é: o que faremos daqui para frente? Eu, devagarinho, quero aprender a viver, morrer e renascer. E vocês? Já pensaram, em dar adeus, hoje?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

AMOTROPOFAGIA

Dou-lhe um pedacinho de mim, para que, distante, no teu planeta, possas sentar, no alpendre, de tua cabana noturna e provar escondido o que pensei e senti, nesses últimos dias, que fiquei longe de ti. Antropofagia. Talvez, se tiveres sorte, como fazes com a folha de coca, me possuirás debaixo de tua língua, provando o frescor de minha alma, que ao vislumbrar teu corpo foge de mim como um pássaro feito de pensamentos.

Não sei que parte lhe oferecer, receio te entregar o meu fel: tristes morcegos que esperam o anoitecer, para se amarem escondidos e celebrarem a liberdade de suas naturezas. Continuaria me amando se mordesses essa parte? Amar é ficar com. E aguentamos ficar com, à medida que conseguimos ficar CONosco. Conheces teus morcegos? Sei que vou, com meus sentimentos e pensamentos, em lugares que poucos vão. Meu fôlego é o vento que soprou as caravelas, que vagaram o mundo, no passado, na expectativa de encontrar novas terras. Sou abissal. Continuaria me amando?

Mas sabes que não sou apenas isso, minha doçura infantil é o que lhe encantou. Uma ingenuidade que, sinceramente, nem eu mesma acredito que ela ainda resiste. Acredito e pronto. Sorriu e pronto. Queres essa parte? Não. Darei a ti o que senti, quando acordei ao teu lado. Foi uma festa descobrir-me em ti, enquanto dormia dizia a mim mesma: essa é a minha Verdade.

E então se ficares com esse pedaço de mim, a lembrança desse dia será, como fui, a pessoa mais feliz do mundo.