domingo, 12 de fevereiro de 2012

Exílio

No silêncio, me desembaraço. Não sei quando começou, mas a solidão é minha arte. Demorei para notar o porquê olhava obstinada para os filetes de cenoura e as vagens partidas ao meio: tudo era bom e natural. De onde vem a ira?

Tem chovido muito esses dias, prefiro usar coques e prender a franja para trás a deixar os cabelos soltos. "Aguarde. Confie. Faça a sua parte. Você descobrirá seu próprio caminho."

Como quando descamamos um peixe e tiramos suas vísceras, reviro os sentimentos e as sensações até encontrar um pedaço de azeviche, pequeno tormento a ser decodificado com paciência. Encontrarei o caminho.

Na janelas do quarto azul marinho e do banheiro de azulejos verde oliva, os raios de sol procuram corpos para lembrá-los que ainda estão vivos: respirem, toquem-se, olhem para seus membros! Mergulhando,cada vez mais em mim, fico negra e silenciosa como a noite.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Translúcida

Há uma verdade em cada um daqueles escritos, há uma certa intimidade corajosa naqueles desabafos que acariciam a dor da morte. Como leitora, voyer sôfrega, a cada verso tragado, coloco os pés no lago de brumas na tentativa de tatear uma resposta.

O Nada é um urso polar imenso à procura de presas. Ele não é mal, é natural. O que assombra é, talvez, a certeza da falta de sentido. Ninguém, naquela manhã, atreveu-se a dizer um não e, como robôs, ordenaram suas falas e poliram seus pensamentos, solicitando apenas notas fiscais a cada desejo entornado.

De dia, meu amor é imenso. Sinto-me forte e, como a lua, observo a humanidade com generosidade e perdão. Tiro do meu bolso, quando tocam o sino no final da tarde, tanques de areia, nos quais deixo no canto um rastelo, uma picareta e uma foice. Equilibro-me no meu olho esquerdo, jogando o peso do ideal para o alto, içando qualquer tentativa de autoflagelação. Aprendi a me amar e agora estou pronta para o Bem. De noite, com a respiração presa, visito a vida de um ancestral raposa, sábio e aterrorizante conta a minha história segurando uma flor orvalhada. Ele a assopra e sinto que meu coração é uma harpa vibrante.