segunda-feira, 9 de novembro de 2009

A CEIFADORA

Eu gosto de tirar carta de tarot, na internet. Acho interessante e respeito todo o ritual, que indicam, no cabeçalho: respire fundo, peça orientação para o seu dia, leia com atenção. Hoje, tirei a morte. O ceifador. Não fiquei surpresa, pois de fato é dela que preciso, nesse momento, de minha vida. Preciso desapegar-me de coisas que não fazem mais sentido: o passado, os sentimentos, as sensações, as buscas incompletas que não têm muito a ver com o que eu anseio - mesmo não tendo isso muito claro. Mas intuitivamente, sei por onde caminhar, como todos nós, no fundo, sabemos. Mas é necessário coragem e amor. Dar adeus e deixar as cascas cairem para irmos ao encontro do que viemos, nem sempre é fácil. O que virá em seguida? Temos que, simplesmente, acreditar. Eu, que sou budista, busco ver a morte como mais um fato da vida. Uma passagem. E numa observação mais micro, vejo que a morte está presente em tudo, não só quando deixamos de fato de viver. Ela está, principalmente, quando temos que dar adeus a padrões que não nos cabe mais, quando temos que, por mais estranho que pareça, dar adeus a algumas pessoas que amamos e quando temos que aguentar o peso de escolhas, que no início não parecem ser plenas de sentido, mas aos poucos as coisas vão se delineado. Isso é morrer e renascer. E esse convite é feito a nós todos os dias.
A vida é um jardim de fato. Por isso, ultimamente, tenho observado mais as flores, as gramas, as árvores, etc. Acho que por isso o nome desse blog é my pillow is the grass. Temos que cuidar do nosso jardim todos os dias e cultivar estados mentais e sentimentos positivos. Sei que não é fácil. Mas não temos que banir a sombra, nem o contrário: fazermos apologia a ela, a fim de encontrarmos sentido aquilo que nos fere - é uma maneira de lidar com a dor. Acho que o mais simples- como tudo na vida - é o mais difícil de fazer, ou seja, deixarmos ela ser o que é e integrá-la da forma mais adequada. E isso nem sempre é fácil. Quando cai as máscaras e vemos o nosso lado sombrio, temos vontade de nos abandonar. E o que é o feio? Nossa solidão, nossos preconceitos, nossas infantilidades, nossos ódios, nossa fraqueza, nossa mesquinharia, nosso egoísmo, nossa falta de amor para com nós e os outros... Queremos negar isso. Mas isso também faz parte da vida, o que fazer então? Acho que o desafio é ficar com isso também. Observar. Buscar não se envolver. Amar e transmutar. Acredito no potencial infinito de transformação do homem. Estamos aqui para aprender a viver, mas também para aprender a morrer. Tem uma autora, a qual dá a seguinte dica: pergunte o que tem que morrer em sua vida e o que tem que viver todos os dias. Uma boa dica. Quero dar adeus a alguns obstáculos, que eu mesma criei. Não há mais algoz e nem vítima, e nem, na clínica, atualmente, se busca isso. A responsabilidade é: o que faremos daqui para frente? Eu, devagarinho, quero aprender a viver, morrer e renascer. E vocês? Já pensaram, em dar adeus, hoje?

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