quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

MONTA E DESMONTA/QUEBRA E COLA

Não deveria escrever neste estado. Acho que isso não é aconselhável, deve atrapalhar a escrita. Digo, estar assim, à-flor-da-pele. É muita víscera e paixão para uma mulher só, então, levo do jeito que dá a alma, a qual me foi destinada. Não resisto mais, deixo ser o que sou, quero me tornar uma expert em mim mesma, assim recebo o que exploro com os sentimentos e juro, dói e lava como a sensação de tirar uma flecha do peito. E foi isso, quando percebi que ele estava muito velhinho e amedrontado. Quem? Meu pai. Um homem que viveu bem, com todos os desafios e limitações, assumiu responsabilidades gigantescas muito cedo e creio que, nessa história toda, esqueceu um pouco de si mesmo. Hoje, desejei mais do que nunca que estivesse feliz. Nada demais, só estava borocochô, é a vida e o tempo, bem sei. Só que o que doi ali, doi aqui. Também sei que não é diferente de mais ninguém. Mas olha, depois de ter vislumbrado essa precariedade obscena que é viver é preciso assobiar, no meio da noite, um sambinha. Meu Deus! Como somos frágeis! E acho que, exatamente, por isso somos orgulhosos e fingimos durante muito tempo o tudo-bem, amanhã-eu-serei-mais-o-que-desejo-aqui-no-fundo. E passam dois, três, quatro anos e mal abraçamos quem amamos. Por isso optei por um coração que monta e desmonta. Que quebra e cola. Acho muito, mas muito mais condizente com a vida loka - ótimo isso, né?: vida loka. Portanto, hoje, ao ouvir minha mãe falar sobre meu pai, ri, mas era de nervosismo.

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