terça-feira, 16 de novembro de 2010

Destruição de Carlos Drummond de Andrade

Os amantes se amam cruelmente
E como se amarem tanto não se veem.
Um se beija no outro, refletido
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
Pelo mimo de amar: e não percebem
Quanto se pulverizaram no enlaçar-se
E como o que era mundo volve a nada.

Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
Que os passeia de leve, assim a cobra
Se imprime na lembrança do seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir, mas o existido
Continua a doer eternamente.

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