domingo, 27 de novembro de 2011

Retornando...

Hora de voltar a escrever. Em alguns momentos, ficava apreensiva por não estar escrevendo absolutamente nada. Nem a descrição de um suspiro, nem um relato da esperança que voltou a crescer dentro de mim como uma grama verdejante. Sabia que algo estava faltando, mas a rotina, nesses últimos tempos, me dragou de tal forma que não pude me dedicar à tessitura da poética. Apenas avaliei e senti cambaleante os imperativos da vida que foram me empurrando até a outra margem do rio: sim, atravessei o meu passado, para, agora, no presente, descansar sob o dossel dos desejos, a fim de me revigorar para a próxima colheita.
Mesmo não escrevendo como gostaria, súbitos pensamentos e imagens invadiram a minha mente: ao imaginar de forma espontânea um abalo sísmico em uma ilha, enquanto caminhava para pegar o metro, aprendi um pouco mais sobre mim mesma, ou seja, descobri - fazendo as pazes com a minha própria alma - que me habitar é como morar em uma ilha intocável, de flora e fauna exóticas e exuberantes, mas também regida por cataclismos aleatórios. Seria o fator criatividade? Talvez. Gosto muito de uma frase que estava escrita em plena Av. Sumaré "Para nascer uma estrela é necessário o caos" Nietzsche.

Nesses últimos tempos, estudei, trabalhei e me expus demais. Toda minha energia estava voltada para fora e como uma amante que se entrega de forma, obscenamente, omissa e desejante ao seu homem, me doei infatigavelmente ao mundo que por sua vez foi generoso comigo.
Agora, é hora de me recolher um pouco, costurar as impressões às emoções e aos sentimentos desencadeados pelas experiências vividas, separar o que deve ficar e perseverar daquilo que deve ser expelido e combatido. A busca é sempre de equilíbrio. Nem tão ao céu, nem tão à terra.

Para mim, voltar a escrever sempre é bom, mesmo não sabendo ao certo o que vou encontrar.  A melhor forma para expressar o processo da escrita para mim é fazer uma analogia com a descida em alta profundidade de um mergulhador a um novo território. Lá, ele encontra seres unicelulares que nos remetem ao início do processo evolutivo da vida; aqui, encontro emoções, sentimentos, pensamentos que tentam dar conta de expressarem quem sou.

É o pensamento do pensamento. A emoção da emoção. O sentimento do sentimento. É ver vocês sem o "ego", exibindo a beleza e miséria de suas escolhas, assim como vejo refletido em todas as suas ações a qualidade de seus olhares para vida: há pessoas corajosas, que mesmo não sabendo amar buscam estar à altura da vida e há pessoas covardes que jamais saíram de si mesmas para aventurar-se no outro com medo de se perder. Mas para encontrar algo, é necessário perder-se por um período.

Assim, ao escrever sobre mim, o processo de me encontrar nos caminhos, às vezes, tão incertos da  vida, se torna um artefato que me permite vislumbrar a fascínio que é viver, salvando-me como faz o cilindro de oxigênio do mergulhador.

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