sexta-feira, 21 de maio de 2010

Caminhando pela vila...

Não quero filosofar a vida. Quero apreendê-la de supetão. O homem do outro lado da rua, com as sacolas, na mão, vai sem mistério e atravessa certeiro o fim do seu dia. Ele não tem insônia. Está satisfeito com o que tem. Colocará sobre a mesa os pães, os cortará ao meio, passando a manteiga. Ligará a televisão. Não sabe que vive como um boi castrado por espanto e admiração de existir. Mas Proust conseguiu a cura, deu-se de presente personagens como Swann e Odete de Crecy. Como tenho dificuldade de deixar ser o que é, a minha luta é no palco das letras, onde apaziguo o sensível e o cogniscível. Às vezes, tenho a cara de pau de pensar que não sei para quem e o que vivo, pois o desânimo é o avesso do ideal, é uma armadilha para frustração de quem ainda resiste em amadurecer. De qualquer modo, a forma é que me impressiona. Ver todos vocês em pé, logo de manhã, indo atrás de seus sonhos como se fossem de vidro. Restando a mim apenas a compaixão.

Nenhum comentário: