domingo, 9 de maio de 2010

ALQUIMIA...

Para o budismo cada sentimendo contém uma centelha de Iluminação, ou seja, a possibilidade de sermos mais inteiros, plenos, libertos de qualquer sofrimento. Daí sermos tolerantes a tudo, inclusive a raiva, a nossa e a do outro. Portanto até esse sentimento, o qual é renegado às sombras é visto como uma possibilidade de encararmos a Vida, a partir de outra perspectiva, primeiro, deixando ele ser o que é, sem amaldiçoá-lo, mas também sem deixar que ele nos domine, isto é, integrá-lo à consciência de maneira compassiva.
Achei interessante. Mas seria possível? E um dia desses, me peguei sentindo uma raiva absurda, daquelas que deixam os olhos da gente mareados de lágrimas; daquelas que nos deixam, levemente, febris... (Creio que não há nenhum ser humano que não tenha sentido isso, se não sentiu deveria, pois o humano passa, inclusive, por aí).
Fiquei cega. Queria apenas blasfemar e me vitimizar. Tentei sair de cena forjando uma compaixão que beirava mais à omissão da injustiça do que de fato uma atitude correta, que poderia beneficiar tanto a mim, quanto à pessoa envolvida, no conflito, pois todos nós precisamos tomar consciência de quem somos, inclusive, naquilo que não é belo.
Enfim, deixei a raiva ficar no centro da minha consciência: vi no palco a revolta, a vitimização, a omissão, o medo, etc. Por que sentimos isso? Se fosse um tempo atrás, me sentiria culpada. E isso tão pouco ajudaria. Não acredito em culpa e sim em responsabilidade.
A partir disso, consegui acertar o alvo do meu incômodo. Foi como um processo alquímico, o que era algo concetrado, que bloqueava qualquer expansão de desenvolvimento diluiu e transformou-se na ação correta, pois descobri que o procuro está aqui dentro. Assim:
Não me senti mais vítima, não porque não foram omissos e frágeis, na hora de fazer a escolha, mas porque já sei que sempre terá uma saída para mim, pois acredito na minha continuidade.
Não me senti mais colérica, não porque não havia motivos de indignação quanto à falta de respeito, mas porque eu sei que ninguém tem a última palavra sobre o nosso valor a não ser nós mesmos.
E a partir disso, abri um canal enérgico aqui dentro e decidi transformar isso - a raiva, a agressividade - numa maneira mais assertiva diante daquilo que me cabe fazer, enfim, deixar a lenha queimar para bons motivos: acordar de manhã e trabalhar todos os dias com mais certeza, naquilo que adoro fazer. Lapidar alguns talentos, aceitar as minhas limitações minhas e a do outro, ir atrás do meu bem-estar e de quem amo com mais perseverança, aprender a perdoar o que é possível e dar o golpe último, naquilo que não é, conviver com o que é banido em mim e no outro, na sombra, de maneira consciente e acreditar sempre nos resultados das transformações de nossa alma...

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