quarta-feira, 28 de julho de 2010

Degelando-se, numa tarde...

I-
Tem coisas que são inspiradoras. E geralmente, não são grandiosas e nem concluídas. Inspirar é sofrer a influência de algo. É arrebatar-se, e dali adiante ninguém sabe onde vai dar. Te ver ontem, por exemplo. Uma troca de olhar mínima, na faixa estreita do olho. Nem sei quem é, e mesmo odiando clichês e lidando bem com a minha solidão me guiei, atmosfericamente, para perto do balcão.

II-
Um café, por favor. Um gole, dois - o que faço aqui? Tonteando. Muda a cena. Alice caindo no buraco: "Quantos quilômetros já terei descido? Com certeza estou pertinho do centro da Terra, a uns 6.600 quilômetros, talvez." Não. Espera, voltando. Estou a dois palmos de você, meu rapaz, e essa troca de olhar, na arena dos impulsos, não me faz ser menos estranha a você, que ao contrário, tornou-se de supetão familiar às minhas intenções. Puxa! Os quadros de Leonilson fizeram um baita sentido de repente! Frase neon no centro da consciência: pensamentos proibidos do coração. Um sussurro, talvez...

III-
Adeus, era isso que eu gostaria de ter dito - sem soar carente demais. Queria ao menos ter causado uma boa impressão. Não um borrão de ansiedade e equívoco. Não. Sei que foi rápido. Assim que notei você, já não éramos. Mas foi inspirador, voltei para casa e mamãe à mesa disse: Tranquilo, filha? A sopa de aspargos fumegante, na baixela de inox, canalizou aquela euforia disfarçando-a, na frase: O que é isso, bacon? Delicioso! Em silêncio, jantei, isolada para continuar em uníssono aos seus encantos.

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