sexta-feira, 22 de julho de 2011

VIVER

A cidade está fria.

As pessoas são gentis
umas com as outras.
Tudo está funcionando:
semáforos, botões pregados, 
desejos sublimados,
tráfego tranquilo.
(Por que Pandora abriu a caixa?)

A saliva da brisa
sobre meu peito frio
precipita gotas de orvalho,
desenhando um dragão
com a boca aberta...

Não sei se sou
mais inocente que você.

Milagre
é estarmos vivos
há tanto tempo,
compenetrados
nas nossas invenções

acreditamos, inclusive,
que há sentido para tudo:

Meu querido, por que partiu tão cedo?

Com urgência
sou solicitada
e decido o dia todo,
mas quando tudo silencia, noto:

sobre o travesseiro de grama,
onde descanso todas as noites,
esqueci visões salutares:
o mar encrespado
todo prateado,
a flor presa aos meus cabelos,
as crianças sonolentas sobre o meu colo.

Vale a pena estar de passagem.

Um comentário:

cleberix disse...

Vale a pena> lindo poema>