quinta-feira, 24 de junho de 2010

Lenita prestes a voar...

Há um começo e um depois -
Dias vagos, vazios.
Um passo, dois tropeços.

Fito: nítida mulher inerte,
Ofélia menina sob as rosas
estampadas no lençol branco.
Hoje, ninguém a acordará desse
sono profundo. Nem eu.

No cais próximo, embarcações tocam a terra.
É domingo. O portão está semiaberto.
As crianças ofegantes se encaminham
até a mesa do almoço posta no quintal,
guardanapos voam ao vento e
os talheres cintilam à luz do sol.

Simples como um copo d´água,
com duas folhas de hortelã,
ela abraça seus convidados. Mas fitem.
(Há a naturalidade obscena baudeleriana.)
"Torta de maçã, por favor...". Falta-lhe o prazer.

Dorme. Sonha. Sabe-se devagar, percorrida.
O seu dia foi longo e a noite incompleta.
A lembrança do antes já não é,
vira, meu amor, transmuta,
cura-se ao amanhecer,
constelando em seus olhos -
semáforo intenso para quem compreende suas pestanejadas -
a vida prestes a ser reconquistada.

Sozinha, desperta para si. Sem mim.

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