sábado, 7 de maio de 2011

ABRUPTA

À noite, enquanto todos da casa dormem,
atravesso o estreito túnel dos impulsos
até chegar ao salão da gruta reencontrada.
Novamente, estou só e desconfortável.

O telefone toca e refletimos a nossa respiração
no espelho da dúvida e da covardia.

Passaram-se trinta e poucos anos,
a água no tanque das memórias
turvou, transformando o flerte da conquista
em enguia radioativa: a beleza do inabitável adeus.

Talvez, retornarei para servir o café da manhã.
E como todos os dias, partirei as maçãs ao meio,
arrumarei o vaso com incautas astromelias
e abrirei as cortinas para o sol inibir
os vestígios da noite passada - bem sei:
pesadelos, ejaculações, torrentes de esperança,
naufrágio de amor, tatuagem em punho.

(Obeliscos fraturados no ápice do perdão)

De onde quero chegar, verei o assombro de cada um -
teremos um outro dia, um outro tempo, para nos compreendermos.

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