domingo, 19 de julho de 2009

CAT POWER


Aconteceu. De verdade. Mais ou menos duas horas de duração. Ela, no palco; eu, na mesa. Isso, isso: senhorita Chan Marshall veio ao Brasil pela terceira vez e, finalmente, pude vê-la, ouvi-la.

De início, estava resistente: "Magina! Não é para tanto, já gostei muito, mas agora, blablabla...". Como no conto de Clarice Lispector, Felicidade Clandestina, fingi que não vivia aquilo para de tempos em tempos me surpreender com tamanha felicidade. Ah, essa minha alma tímida!

Como estava feliz! E os motivos eram tantos: ela, sua banda: Dirty Delta Blues, a minha história pessoal que foi regada a Cat Power durante cinco anos ininterruptos, pois quantas vezes não fiquei ouvindo Covers Records deitada na cama? You are free lavando louça ? Jukebox no trabalho? Moonpix na balada? Estava realmente emocionada.

A Luciana, com quem eu fui, disse que fiquei imóvel o show inteiro, que pendi para os lados, no máximo, duas vezes: ora para me debruçar à mesa, ora para me encostar à cadeira.

Ai, ai. Lembro-me de ficar escrevendo, no chão da sala, no meu apto. da Monte Alegre, as letras de músicas que não vinham no encarte, mas que eu as pegava na internet. Corria ao dicionário e traduzia um trechinho aqui, outro ali. Recortava figuras, para compor ainda mais a arte.

Nossa! E ia até a Augusta, ou a Velvet encomendar os cds importados. Cheguei a aprender a tocar duas musiquinhas no violão, fora o orgulho que tinha de ter uma franja como a dela!

O show foi demais. Eram as luzes vermelhas, azuis, a vela sobre o órgão, a guitarra, a bateria e ela - desculpe a analogia cafona, mas verdadeira - parecendo uma loba andando pelo palco, pois ficava toda encurvada, saltitava e... uivava!

De início, ansiosa, esperava um hitzinho qualquer, para confirmar o quanto sou sua fã, mas as coisas foram acontecendo de modo diferente. Por não conhecer algumas músicas do seu último EP Dark End of the street, me permiti ainda mais ficar perscrutando a atmosfera que ia sendo criada.

Aos poucos, o sentido já era perceptível: não havia escapatória: você tinha que ir com ela para o Hades. Isso mesmo, para o mundo das sombras e ficar um tempinho quieto, para perceber que é dali que nascem as coisas mais importantes, mas que ainda não têm forma: o amor, a alegria, os impulsos das paixões, a intuição que rege um destino, os medos, as mágoas e reviravoltas...

E quem nos disponibilizava isso: senhorita Chan Marshall, com sua voz rouca, possante, que deixou o álcool para tomar chá – qualquer semelhança com a minha vida pessoal é mera coincidência... Mas agora, muito mais segura e atrevida.

Sou fã da sua arte, mas não deixo de admirá-la pela sua vida pessoal. Houve uma época em que decidiu parar de tocar, voltou para Atlanta e ali ficou, até que no meio de uma noite, acordou sobressaltada como se um espírito a tivesse saculejado e produziu de uma tacada só o Moonpix.

Voltou para Nova Iorque e recomeçou. Também não deixo de comparar esse fato com a minha vida pessoal, pois durante um tempo esqueci algumas coisas importantes e tive que retomá-las injetando mais vitalidade à minha alma.

Pois é. Aconteceu de verdade. Ontem, como um caleidoscópio, lembranças da minha história de vida, as músicas, a Chan Marshall (cheguei bem pertinho dela), as luzes, a penumbra quebraram a resistência de quem ama e fingi não amar: "Magina! Não é para tanto, já gostei muito, blablabla..."

2 comentários:

guto disse...

haha eu ia mandar a tua resenha pra kika pois mesmo nao tendo ido ao show adorei ler o q vc escreveu, aih vi q ela deixou um comment jah... bj

Luiza disse...

oi! sou eu de novo! menina, descobri teu blog e agora não largo mais!!! q texto lindo!!!!!!!!!!