segunda-feira, 18 de abril de 2011

CONFIANÇA

Hans Christian Andersen: uma alma atenta às necessidades humanas
Sinto que nada está fora do lugar, em minha vida. Pela primeira vez, ela se aquietou e é com satisfação que começo, mais do que nunca, a ser mais para mim mesma. Ontem, enquanto arrumava o acervo de livros para as crianças, no Sesc, encostei-me na parede e li avidamente, um conto do Andersen, a Polegarzinha. Essa história é um clássico dos contos de fadas, a qual narra as aventuras de uma mocinha muito bela, que tem o tamanho de um polegar. Além de seu nascimento ter sido tardio, a pequenina heroína foi sequestrada por uma 'sapa', que queria que ela se casasse com o seu filho, que nem sequer falava e apenas coachava. Depois disso, Polegarzinha conseguiu fugir e quase morrendo encontrou um lugar para ficar, a casa de uma ratinha muito acolhedora, mas que também queria que a pequenina menina se casasse com um pretendente indesejado, uma topeira.
Ao ler essa história - aliás, todos os contos do Andersen - uma angústia inevitável se apoderou de mim. A garotinha era refém dos desejos alheios e pouco havia espaço para ela viver o que desejava. Em determinado momento, ela se deparou com uma andorinha adoentada, no túnel, que a topeira cavou para ligar sua casa a da ratinha, onde estava abrigada. Polegarzinha, pela primeira vez, ao ver o pássaro, sentiu-se feliz, enquanto a ratinha e o sr. topeira criticavam o animal desfalecido: "ele só sabe voar e cantar... e deve achar isso bonito".
Enfim. No final da história, ela consegue fugir com a andorinha da casa da ratinha e não se casa com o sr. topeira. Ela chega até mesmo a encontrar um lugar para morar agradável, assim como desposa um jovem que lhe agrada.
Esse conto de fada me fez refletir sobre uma questão que penso ser essencial para nós, seres humanos. Pois,  não basta vivermos de qualquer maneira, é necessário estarmos de acordo com aquilo que pensamos ser a nossa felicidade - e que arrisco a mencioná-la como o encontro com o nosso Self, isto é, o nosso verdadeiro eu. Na psicologia analítica, existe todo um arcabouço teórico para que o paciente possa se conhecer melhor e trilhar um caminho de individuação da sua personalidade, para que o leve à construção de uma vida significativa, plena de sentidos. Dessa maneira, não bastava para a Polegarzinha casar-se com um sapo, ou uma topeira. Nem mesmo morar debaixo da terra. Ela precisava voar, sentir os raios de sol reverberando em sua alma até encontrar um pretendente que a fizesse sentir que valia a pena viver.
Eu não sei, mas ultimamente, estou sendo uma boa companhia para mim mesma. Pois com atitudes tão simples - que se as pessoas soubessem poderiam até me chamar de idiota - acabo chegando onde quero. É que tenho descoberto, com o meu coração, que não preciso ser nada para ninguém, ou para um coletivo. Que as coisas que devo valorizar eu sei onde buscar: aqui dentro, onde pulsa a certeza do meu ser e que portanto, não importam os tropeços, trilharei caminhos que me propiciarão a felicidade.

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