Clarissa Pinkola Estés
Ontem, fui à livraria da Vila parabenizar uma amiga letreira. Com o título de Contos de irmãos: histórias de coragem, aventura e astúcia, Ana Carolina Carvalho, Lili, iniciou-se como escritora nos presenteando com algumas histórias de irmãos. Diferente das que conhecemos, as histórias escolhidas por Lili tratam do relacionamento fraterno a partir da união, solidariedade e cumplicidade.
Os contos estão divididos, em três eixos: Um pouco como João, um pouco como Maria; Cuidado com a madrasta!; e Diga-me teu nome e te direi que és. No primeiro eixo, os contos são do Peru, Angola e Portugal, como introduz a própria autora: "Nestes três contos, você vai se emocionar e sentir uma pontinha de medo com as histórias de irmãos que se perdem na floresta. Em meio a tamanha aventura, eles precisam se unir para sobreviver e vencer os perigos da selva, as maldades de uma bruxa e de outras criaturas fantásticas".
No segundo eixo, os contos são do Brasil e da Itália: "Nestes contos, duas duplas de irmãos enfrentam um perigo que mora sob o mesmo teto. Como muitos enteados dos contos de fadas, os irmãos destas histórias não tiveram nenhuma sorte com o segundo casamento do pai e penaram nas mãos de madrastas nem um pouco maternais."
No terceiro eixo, os contos são da China e da Sibéria: "São dois contos de regiões quase vizinhas. E de famílias muito particulares, pois, em cada uma delas, os irmãos fazem juz ao nome que têm: cada um carrega na identidade o poder que lhes salvará a vida, proporcionando caça em dias gelados de inverno ou recuperando a dignidade perante um imperador cheio de ganância e sem nenhuma razão."
Achei bárbara a lacuna temática escolhida por Lili. Em tempos como os nossos, retomar virtudes, como a coragem, aventura e astúcia perpassadas pela fraternidade, nas histórias, é de extrema importância, afinal, uma andorinha só não faz verão!
Como dedicatória escreveu: "Para querida Ariane, são as histórias, afinal, que nos fazem todos irmãos." E de fato é. Para mim, as boas histórias nos colocam no mesmo chão psíquico-espiritual: o leitor pobre, o rico, o homem, a mulher, a criança, o ignorante, o intelectual - não importa quem esteja lendo - encontrará na narrativa uma experiência comum: os medos que precisam ser ultrapassados, os amores que precisam ser vividos, a injustiça que precisa ser denunciada, o que nos faz lembrar que todos somos UM, seja na Angola, Brasil, China, Itália, Sibéria, Peru e Portugal.
Histórias são mapas do nosso próprio coração e do outro. Requer atenção generosa e disponibilidade para acolher os imprevistos - nem sempre é gostoso nos indentificarmos com algumas passagens da narrativa. Mas são elas que nos alertam dos perigos da vida, que nos faz lembrar como devemos proceder diante de um conflito e o mais importante: que a vida é um processo ad infinitum de aprendizado.
SUGESTÃO DE LEITURA: Contos de irmãos: histórias de coragem, aventura e astúcia de Ana Carolina Carvalho, ed. Moderna
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