domingo, 9 de agosto de 2009

HISTÓRIAS...

"As histórias são bálsamos medicinais. Achei as histórias interessantes desde que ouvi minha primeira. Elas têm uma força! Não exigem que se faça nada, que se seja nada, que se aja de nenhum modo - basta que prestemos atenção. A cura para qualquer dano ou para resgatar algum impulso psíquico perdido está nas histórias. Nas histórias estão incrustadas instruções que nos orientam a respeito das complexidades da vida. As histórias nos permitem entender a necessidade de reerguer um arquétipo submerso e os meios para realizar essa tarefa."
Clarissa Pinkola Estés

Ontem, fui à livraria da Vila parabenizar uma amiga letreira. Com o título de Contos de irmãos: histórias de coragem, aventura e astúcia, Ana Carolina Carvalho, Lili, iniciou-se como escritora nos presenteando com algumas histórias de irmãos. Diferente das que conhecemos, as histórias escolhidas por Lili tratam do relacionamento fraterno a partir da união, solidariedade e cumplicidade.
Os contos estão divididos, em três eixos: Um pouco como João, um pouco como Maria; Cuidado com a madrasta!; e Diga-me teu nome e te direi que és. No primeiro eixo, os contos são do Peru, Angola e Portugal, como introduz a própria autora: "Nestes três contos, você vai se emocionar e sentir uma pontinha de medo com as histórias de irmãos que se perdem na floresta. Em meio a tamanha aventura, eles precisam se unir para sobreviver e vencer os perigos da selva, as maldades de uma bruxa e de outras criaturas fantásticas".
No segundo eixo, os contos são do Brasil e da Itália: "Nestes contos, duas duplas de irmãos enfrentam um perigo que mora sob o mesmo teto. Como muitos enteados dos contos de fadas, os irmãos destas histórias não tiveram nenhuma sorte com o segundo casamento do pai e penaram nas mãos de madrastas nem um pouco maternais."
No terceiro eixo, os contos são da China e da Sibéria: "São dois contos de regiões quase vizinhas. E de famílias muito particulares, pois, em cada uma delas, os irmãos fazem juz ao nome que têm: cada um carrega na identidade o poder que lhes salvará a vida, proporcionando caça em dias gelados de inverno ou recuperando a dignidade perante um imperador cheio de ganância e sem nenhuma razão."
Achei bárbara a lacuna temática escolhida por Lili. Em tempos como os nossos, retomar virtudes, como a coragem, aventura e astúcia perpassadas pela fraternidade, nas histórias, é de extrema importância, afinal, uma andorinha só não faz verão!
Como dedicatória escreveu: "Para querida Ariane, são as histórias, afinal, que nos fazem todos irmãos." E de fato é. Para mim, as boas histórias nos colocam no mesmo chão psíquico-espiritual: o leitor pobre, o rico, o homem, a mulher, a criança, o ignorante, o intelectual - não importa quem esteja lendo - encontrará na narrativa uma experiência comum: os medos que precisam ser ultrapassados, os amores que precisam ser vividos, a injustiça que precisa ser denunciada, o que nos faz lembrar que todos somos UM, seja na Angola, Brasil, China, Itália, Sibéria, Peru e Portugal.
Histórias são mapas do nosso próprio coração e do outro. Requer atenção generosa e disponibilidade para acolher os imprevistos - nem sempre é gostoso nos indentificarmos com algumas passagens da narrativa. Mas são elas que nos alertam dos perigos da vida, que nos faz lembrar como devemos proceder diante de um conflito e o mais importante: que a vida é um processo ad infinitum de aprendizado.

SUGESTÃO DE LEITURA: Contos de irmãos: histórias de coragem, aventura e astúcia de Ana Carolina Carvalho, ed. Moderna

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