quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
Pensamentos...
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
GAROTA INTERROMPIDA
Sem pudor, é fácil quando questionamos demais sentir um certo estranhamento com relação ao mundo e às pessoas... Como as personagens de Kafka que não se encontram no mundo e ofegantes lutam lutam sem saber contra quem e por quê. Enfim, quando me encontro altamente, introspectiva atinjo a medula do que achava não existir: sinto uma vertigem, que nos sonhos é representada como pequenos furacões que dançam sobre uma mesa de jantar, à qual pessoas estão sentadas.
De qualquer forma, descobri que reconhecer que viver pode ser um absurdo é para poucos, aí nasce um novo sentido, como Sartre mostrou em a Náusea... Não, não faço apologias ao existencialismo, nem ao niilismo... Mas mesmo para quem como eu que tem crenças - acredito no amor, na família, na amizade, em Deus, nos animais etc - o absurdo espreita e quando isso acontece ajo como a Alice no País das Maravilhas e aos poucos o que estava interditado abre caminhos.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
sábado, 27 de novembro de 2010
Todos à mesa
Referência Bibliográfica:
PROUST. M (2006). À sombra das raparigas em flor. Trad. Mario Quintana. 3a. ed. São Paulo: Globo.
"Seria, pois, possível que esse homem genial, esse sábio, esse solitário, esse filósofo de palestra magnífica e que dominava todas as coisas fosse o ridículo e perverso pintor protegido outrora pelos Verdurin? Perguntei-lhe se não os tinha conhecido e se não o chamavam então de sr. Biche. Elstir me respondeu que sim, sem dar mostras de confusão, como se se tratasse de um tempo já passado de sua existência;não suspeitava a extraordinária decepção que me causou, mas ergueu os olhos e leu-a em meu rosto. No seu se espelhou um ar de descontentamento. Como estávamos quase em sua casa, outro homem de menos inteligência e coração que ele houvesse despedido secamente, sem mais nada, fazendo depois o possível para não se encontrar comigo. Mas Elstir não fez tal coisa; como verdadeiro mestre - talvez o seu único defeito do ponto de vista da criação pura fosse o de ser um mestre, neste sentido da palavra mestre, porque um artista, para entrar na plena verdade da vida espiritual, deve estar só e não prodigalizar o que é seu, nem sequer a seus discípulos - procurava extrair de qualquer circunstância, referente a ele ou a outrem, e para melhor ilustração dos jovens, a parte de verdade que continha. E preferiu, a frases que pudessem vingar seu amor-próprio, outras que me instruíssem.
- Não há homem - disse-me - por sábio que seja que em alguma época da sua mocidade não tenha levado uma vida ou não haja pronunciado umas palavras que não lhe agrade recordar e que quisesse ver anuladas. Mas na verdade não deve senti-lo inteiramente, pois não se pode estar certo de ter alcançado a sabedoria, na medida do possível, sem passar por todas as encarnações ridículas e odiosas que a precedem. Bem sei que há jovens, filhos, netos de homens distintos, com preceptores que lhe ensinam a nobreza d´alma e elegância moral desde os bancos escolares. Talvez nada se tenha a dizer da sua vida, talvez possam publicar e assinar tudo quanto disseram, mas são pobres almas, descendentes sem força de gente doutrinária, e de uma sabedoria negativa e estéril. A sabedoria não se transmite, é preciso que a gente mesmo a descubra depois de uma caminhada que ninguém pode fazer em nosso lugar, e que ninguém nos pode evitar, porque a saberoria é uma maneira de ver as coisas. As vidas que o senhor admira, essas atitudes que lhe parecem nobres, não as arranjaram o pai de família ou o preceptor; começaram de modo muito diverso; sofreram a influência do que tinham em torno, de bom ou frívolo. Representam um combate e uma vitória. Compreendo que não mais reconheçamos a imagem do que fomos num primeiro período da vida e que nos seja desagradável. Mas não há que renegá-la, porque é um testemunho de que temos vivido de acordo com as leis da vida e do espírito e que dos elementos comuns da vida - da vida dos ateliês, dos grupinhos artísticos, se se trata de um pintor - tiramos alguma coisa de superior a tudo isso.
Tínhamos chegado à porta de sua casa."
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
O BELO
de ouvir música com timidez e desajeito,
de assistir um filme com o pudor de quem se descobre caído - como Adão e Eva, no Paraíso.
Gosto de capturar o olhar de uma criança,
quando ela sintoniza o invisível
e depois o compartilha em segredos gestuais:
Eu acho que ele gosta de você...
Gosto de ver homens construindo grandes avenidas, em São Paulo, sem titubear - como se fossem antigos pescadores reencarnados no asfalto seco.
E gosto de antecipar a imagem do perfil do meu namorado,
na minha mente-coração, antes que o sol entre pelas frestas da janela e o acorde.
Todas essas, figuras da rosácea
que eu decalquei nos vitrais dos meus sentidos,
tremeluzem a pureza da minha emoção descomprometida:
inauguro, na surdida da prosa da vida,
a ausência de regras e críticas de quem não enxerga a beleza.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Destruição de Carlos Drummond de Andrade
E como se amarem tanto não se veem.
Um se beija no outro, refletido
Dois amantes que são? Dois inimigos.
Amantes são meninos estragados
Pelo mimo de amar: e não percebem
Quanto se pulverizaram no enlaçar-se
E como o que era mundo volve a nada.
Nada, ninguém. Amor, puro fantasma
Que os passeia de leve, assim a cobra
Se imprime na lembrança do seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.
Deixaram de existir, mas o existido
Continua a doer eternamente.
domingo, 31 de outubro de 2010
O assassino era o escriba Paulo Leminsky
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito de nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os E.E.U.U.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, corretivos e agentes da passiva, o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
OBS: um dos motivos pelos quais eu quase deixei o Curso de Letras, transfiro essa situação inclusive, para as aulas de literatura, que impregnadas de teoria esqueciam a Vida, e pulverizavam qualquer tentativa de um posicionamento crítico, reflexivo e de fruição estética... A subjetividade do aluno, com seus questionamentos, não podia fazer parte da aula, ou seja, formavam sujeitos alienados de si mesmo!
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
sábado, 23 de outubro de 2010
AMOR FATI
Isso me torna humana e igual a todos e daí, sim, acho que conseguiremos nos olhar de frente de forma compassiva e misericordiosa.
Sou o meu ponto de partida e aceito a minha ignorância quanto aos movimentos da Vida. Nunca fui fã de batalhas. Sempre fiquei próxima da sensatez - dom este que não sei de onde veio, mas que agradeço infinitamente a Deus, por todos os centramentos que fui capaz de realizar diante do caos.
Hoje, quero apenas agradecer. Não busco mais respostas. Descobri que o caminho é saber vivência-las e representá-las com coragem e alegria. Transcender a dor. Estar à altura da Vida. Que Deus nos abençoe e nos conceda a capacidade do amor incondicional.
sábado, 9 de outubro de 2010
INVISÍVEL
Pois é. Eu quero uma escrita tortuosa mas diligente, pois preciso rasgar o verbo para eu emergir desnuda, sem purdor, no meio das entrelinhas, pois nasci ambiguamente, exibicionista e introvertida. Afinal, se domo duas ou três palavras de maneira precisa, já consigo suportar as minhas ideias extravagantes que nos momentos de sonolência moral, evaporam-se, deixando-me à margem de mim mesma - ou pelo menos, daquela parte que eu mais amo, secretamente. Enfim, preciso criar textos necessários a um mundo menos acanhado e mais autêntico; que toquem aquelas pessoas que cansaram de subterfúgios da persona; e que principalmente, sejam dóceis e ariscos como um cervo, para que, em sobressaltos, eu surja neles mais plena.
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
domingo, 26 de setembro de 2010
ANCESTRALIDADE (da série: diálogo com quem deveria ter tomado ao menos um café - Virginia Woolf)
Queria ter dito muito mais a ele, quando depois de deixarmos as compras do supermercado, na calçada, resolveu repousar os braços, no meu ombro. Mas não consegui. Disse apenas que daqui para frente as coisas seriam diferentes e legais!, pois venceríamos passo a passo o desafio de habitarmos aquela casa velha - herança de sua mãe - nas próximas semanas. Naquela noite, por estar exausta por tudo o que aconteceu, nos últimos dias, senti a necessidade de antes de entrar a casa ir até o jardim, que ficava nos fundos. A ideia de morar numa casa sem portões que pudessem delimitar as suas fronteiras com a pouca vizinha, ao redor, com apenas sebes, árvores e arbustos, em plena capital, numa região central, me entusiasmava, pois vislumbrava a possibilidade de passar os finais de semana, arrumando um belo jardim para descansarmos e fazermos as nossas refeições depois de uma semana estressante.
A noite estava agradável, pois em pleno outubro, o calor dera lugar a um ameno frio, que nos permitia usar malhas leves e jeans. Estava muito escuro, de modo que ao penetrar no pequeno corredor, que levava ao jardim, tive que iluminar com a luz do meu celular o caminho feito de areia e seixos, causando-me enorme prazer em me mudar, definitivamente, para aquela casa.
Talvez, eu estivesse negligenciado o luto por qual passava, naquele momento, mas não podia mais ficar ao seu lado naqueles períodos de grave angústia, pois foram seis meses dando lhe suporte e preparo para o que sabíamos, que mais cedo ou mais tarde, aconteceria. Definitivamente, creio que sua mãe me compreenderia e ficaria até mesmo feliz em saber que ao penetrar, naquele jardim, tinha a intenção de descansar e planejar sua revitalização, que inclusive faria um bem danado a seu filho.
O chão, um mosaico de terra úmida, musgos sobre pedras e grama, me incintava a sentar em meus próprios calcanhares para sentir o cheiro que dali exalava para gradativamente, me estabelecer confiante de que logo mais ele não sofreria tanto.
Ao olhar para casa, na janela da cozinha, era possível vê-lo guardando as compras no armário. Aquela luz forte amarela que logo mais seria trocada por uma branca econômica me dava a sensação de conforto que tanto buscava, nos últimos tempos, injetando no meu espírito a ideia de que talvez, na hora de dormirmos, ele voltaria a me abraçar, a cheirar os meus cabelos e a rir, no meu ouvido.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
TROPOS HUMANOS
sábado, 18 de setembro de 2010
CONVERSANDO COM ESPÍRITOS (da série: diálogo com quem deveria ter tomado ao menos um café - Paul Cézanne)
No final da tarde, foi até a janela do quarto. Colocou a poltrona próxima do peitoril, onde resolveu deixar um dos braços para fora. Arregaçou uma das mangas do pijama e por alguns segundos ficou a sentir o vento gelado, na pele. Estava muito frio e ter a possibilidade de a qualquer momento voltar para cama e se enfiar debaixo dos edredons florais, dava-lhe a impressão de que havia - apesar de tudo - feito boas escolhas.
Olhando para uma gravura sobre a sua cama sem nunca ter notado alguns detalhes, começou a aliviar sua ira. Começava a sentir menos culpa e mais perdão, pois o que vinha à sua mente de forma torrencial, depois de uma conversa franca com aquela, que deveria ter amado mais que tudo e todos, era uma melancólica conclusão de quão difícil era manter-se... Fiel; paciente; amorosa, pois até os esmaltes nas unhas não se mantêm; nem os filhotes nos ninhos permanecem lá após determinado tempo, sem falar do gás do refrigerante que some depois de aberto uma, duas vezes e ficamos com o gosto insuportável de xarope, na boca... Pensar nesta perspectiva, quase ingênua, dava-lhe humor e leveza para aquilo que não aguentava mais carregar.
Recolheu o braço para dentro do quarto, sentindo-se mais serena, o cheiro de peixe assado da cozinha entrava no quarto, lembrando-a que tinha muito o que fazer, naquela noite, na qual receberia um casal de amigos. Vestiu os chinelos para acabar de fazer a janta, mas antes de atravessar o apartamento, aproximou-se mais daquela gravura e murmurou para si: Como não perdoar?
terça-feira, 14 de setembro de 2010
A MULHER DO SUBSOLO (da série: diálogo com quem deveria ter tomado ao menos um café - Dostoiévski)
Por quanto tempo aguentarei ser simulacro de mim mesma, não sei. Minha voz está irreconhecível, como aqueles garotos que estão na puberdade. Algumas emoções contraditórias deformam a imagem que tenho de mim mesma e acredito que isso está se refletindo na maneira como ouço o tom da minha voz. Mas será que as pessoas estão ouvindo os meus guinchos? Loucura... Metade minha já sabe tudo e tranquiliza-se: amanhã será um novo dia... Ironias escapam de mim, quando penso em voltar para o trabalho que abandonei, ontem, subitamente. Não, aquilo não me fazia bem. Anos e anos, trabalhando em uma editora, metodicamente, com horário cronometrado para levantar e almoçar; para caminhar no corredor e ir até a baia de algum colega para perguntar, se havia me incluído no bolão de um jogo qualquer - enfim, eram laços sociais que me davam a certeza de que eu era uma moça correta, simpática, mesmo sendo cínica comigo mesma, revelando no centro da minha consciência covardia e provincianismo...
Tsc Tsc Tsc... O esmalte começa a lascar, na pontinha...
Mas aos quarenta e cinco anos, por onde recomeçar? Rebeldia nunca foi o meu forte. Admirava aquelas que, na adolescência, faziam o que o desvario de uma fase pudesse impelir, eu, calada, resoluta das minhas metas preferia assistir a mim e a todos... Triste conclusão: ter sido uma expectadora de si e do e se... E se eu fosse mais....
Hoje solidão. Não constitui família e não por falta de oportunidade. Fui amada e amei, mas não me encaxei no papel que me caberia a de ser uma mãe, uma esposa. Pois na minha cabeça é assim: aos Outros tudo transcorre, naturalmente, e a mim há uma muralha entre o que desejo e a vida. Não, não quis chegar a um top-cargo, em empresa qualquer, nem me tornei a moça aficcionada por diet shakes e plásticas. Nada. Apenas salmoura para os peixes aos domingos e risos da piada de um amigo tão solitário quanto eu. Para onde foi o sentido da minha vida? Para onde vai? Pois bem, estou ao menos nesta noite, corajosa o suficiente para olhar para o vazio que criei como um filho - talvez, isso me salve!
Mais um café... É isso que peço à garçonete, enquanto tomo coragem para me arrastar até a minha casa, onde há plantas, massas prontas e recados na geladeira para serem cumpridos, na semana - e isso de alguma maneira alivia as minhas pulsões.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
PARA SE BORDAR EM UMA CAMISA FEMININA NAS COSTAS
-Vovó, vim apanhar fogo - respondeu a menina, estremecendo. - Está frio na minha casa... o meu pessoal vai morrer... preciso de fogo.
-Ah, sssssei - retrucou Baba Yaga, rabugenta.- Conheço você e o seu pessoal. Bem, criança inútil... você deixou o fogo se apagar. O que é muita imprudência. Além do mais, o que a fez pensar que eu lhe daria a chama?
- Porque eu estou pedindo - respondeu rápido Vasalisa depois de consultar a boneca.
- Você tem sorte - ronronou Baba Yaga. - Essa é a resposta certa."
Gosto da ideia de que à noite, enquanto durmo, uma velha de pensamentos poderosos e mágicos vela o meu sono, para que, na alvorada, antes que eu acorde, volta para o meu futuro - após ter coletado três frames do meu sonho - onde mora dentro de uma árvore, que fica ao lado de um portal, difícil de ser franqueado.
Essa imagem me cura...
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
A CIRCUNSPECTA
Eu tenho que fazer algo por mim, urgente. Antes que a autosabotagem entre no lugar da paciência e da mezzo autoestima e ali inverne como um urso. Pois é sempre assim para quem tem um segredo de desabrochar na descoberta do devir: uma dúzia de planos e ousadias que dançam conforme os passos do recuo.
À tarde:
Explico-me melhor justificando a covardia: meu gênero foi acuado na historicidade e não vejo isso como uma fatalidade, pois nos desenvolvemos nos manejos da manobra do existir, ou seja, se não podemos, burlamos através do olhar nervoso, do toque das mãos suadas, da intenção que corrompe, docemente, quem nos guarda.
À noite:
Sofrimento infantil, diria você impaciente, mas que neste momento, por eu entender um pouco mais sobre a fidelidade, não me corrompo e transformo o meu corpo em uma árvore ancestral.
À noite dentro de um sonho:
'É só passar batom, minha filha, que a febre de pulsar as suas verdades passa!' - diria você a respeito das minhas indiossincrasias. Aceito o conselho - mas pela metade!
Então o meu lema é: sair à noite eufórica e concentrada, equilibrando-se no sapato alto, para atravessar pontes que me levam a mim mesma, que um dia estilhaçou-se mas que agora volta a vicejar como um jardim.
Na alvorada do dia seguinte de frente pro espelho:
Gosto de pensar em penteados e cortes de cabelo como prolongações das minhas ideias clandestinas, que me fazem crer em uma liberdade que me foi concedida um dia, mas que agora é apenas pegadas que sigo ansiosa e alegre como uma criança.
Não, não me julguem como aquela que deseja fugir da realidade. Pelo contrário. Hoje em dia, sou suficientemente, apaixonada pelo o que tenho de forma tão obsessiva que a minha ação é apenas a de colar os ouvidos nas células da vida onde ocorrem as transmutações.
É salutar fazer algo por mim, para ficar em paz com aquilo que aponta para os indíces do que fui-sendo, nesta bela jornada.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Degelando-se, numa tarde...
Tem coisas que são inspiradoras. E geralmente, não são grandiosas e nem concluídas. Inspirar é sofrer a influência de algo. É arrebatar-se, e dali adiante ninguém sabe onde vai dar. Te ver ontem, por exemplo. Uma troca de olhar mínima, na faixa estreita do olho. Nem sei quem é, e mesmo odiando clichês e lidando bem com a minha solidão me guiei, atmosfericamente, para perto do balcão.
II-
Um café, por favor. Um gole, dois - o que faço aqui? Tonteando. Muda a cena. Alice caindo no buraco: "Quantos quilômetros já terei descido? Com certeza estou pertinho do centro da Terra, a uns 6.600 quilômetros, talvez." Não. Espera, voltando. Estou a dois palmos de você, meu rapaz, e essa troca de olhar, na arena dos impulsos, não me faz ser menos estranha a você, que ao contrário, tornou-se de supetão familiar às minhas intenções. Puxa! Os quadros de Leonilson fizeram um baita sentido de repente! Frase neon no centro da consciência: pensamentos proibidos do coração. Um sussurro, talvez...
III-
Adeus, era isso que eu gostaria de ter dito - sem soar carente demais. Queria ao menos ter causado uma boa impressão. Não um borrão de ansiedade e equívoco. Não. Sei que foi rápido. Assim que notei você, já não éramos. Mas foi inspirador, voltei para casa e mamãe à mesa disse: Tranquilo, filha? A sopa de aspargos fumegante, na baixela de inox, canalizou aquela euforia disfarçando-a, na frase: O que é isso, bacon? Delicioso! Em silêncio, jantei, isolada para continuar em uníssono aos seus encantos.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Eletroplessão
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Loneliness
quinta-feira, 24 de junho de 2010
Lenita prestes a voar...
Dias vagos, vazios.
Um passo, dois tropeços.
Fito: nítida mulher inerte,
Ofélia menina sob as rosas
estampadas no lençol branco.
Hoje, ninguém a acordará desse
sono profundo. Nem eu.
No cais próximo, embarcações tocam a terra.
É domingo. O portão está semiaberto.
As crianças ofegantes se encaminham
até a mesa do almoço posta no quintal,
guardanapos voam ao vento e
os talheres cintilam à luz do sol.
Simples como um copo d´água,
com duas folhas de hortelã,
ela abraça seus convidados. Mas fitem.
(Há a naturalidade obscena baudeleriana.)
"Torta de maçã, por favor...". Falta-lhe o prazer.
Dorme. Sonha. Sabe-se devagar, percorrida.
O seu dia foi longo e a noite incompleta.
A lembrança do antes já não é,
vira, meu amor, transmuta,
cura-se ao amanhecer,
constelando em seus olhos -
semáforo intenso para quem compreende suas pestanejadas -
a vida prestes a ser reconquistada.
Sozinha, desperta para si. Sem mim.
domingo, 20 de junho de 2010
domingo, 13 de junho de 2010
Pássaros
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Fotografia I - depois de você
domingo, 30 de maio de 2010
Crônica extraordinária de menina descompensada
Me falta a faculdade de simplificar. O trivial nunca fez parte da minha vida. Quando criança, ia à aula com um paletó do meu pai e meias vermelhas até o joelho. Em casa, ninguém disse: menina, não faça isso! E optei daí ser solta até o fim da minha vida, porque isso me causa menos exasperações. Olha, vou ser direta, cara, se eu fosse uma vaca, ou uma galinha, ou hiena, ou ovelha, não te amaria tanto e portanto, não passaria tantos vexames, na frente dos outros, ao dizer meio bebadinha que você é foda. Ainda não entendeu o recado?
Há duas semanas que não te encontrava mais. Falta de você. De tudo da gente. Certo que fui eu quem rompi quando o nó ficou cego, mas veja: amarelei antes de te confiar isso aqui: gosto de você horrores e isso me dá medo. Meu destino de passarinha está preso a alguém-gaiola, pois de repente e injustamente - afinal, ninguém consultou o meu juízo - num rolê à noite, você me sacou certinho. É. Pode ser besteira ter tanto cagaço. Pode mesmo, mas eu acho que você também sente o que eu sinto por você.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
O cervo
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Caminhando pela vila...
domingo, 9 de maio de 2010
ALQUIMIA...
Achei interessante. Mas seria possível? E um dia desses, me peguei sentindo uma raiva absurda, daquelas que deixam os olhos da gente mareados de lágrimas; daquelas que nos deixam, levemente, febris... (Creio que não há nenhum ser humano que não tenha sentido isso, se não sentiu deveria, pois o humano passa, inclusive, por aí).
Fiquei cega. Queria apenas blasfemar e me vitimizar. Tentei sair de cena forjando uma compaixão que beirava mais à omissão da injustiça do que de fato uma atitude correta, que poderia beneficiar tanto a mim, quanto à pessoa envolvida, no conflito, pois todos nós precisamos tomar consciência de quem somos, inclusive, naquilo que não é belo.
Enfim, deixei a raiva ficar no centro da minha consciência: vi no palco a revolta, a vitimização, a omissão, o medo, etc. Por que sentimos isso? Se fosse um tempo atrás, me sentiria culpada. E isso tão pouco ajudaria. Não acredito em culpa e sim em responsabilidade.
A partir disso, consegui acertar o alvo do meu incômodo. Foi como um processo alquímico, o que era algo concetrado, que bloqueava qualquer expansão de desenvolvimento diluiu e transformou-se na ação correta, pois descobri que o procuro está aqui dentro. Assim:
Não me senti mais vítima, não porque não foram omissos e frágeis, na hora de fazer a escolha, mas porque já sei que sempre terá uma saída para mim, pois acredito na minha continuidade.
Não me senti mais colérica, não porque não havia motivos de indignação quanto à falta de respeito, mas porque eu sei que ninguém tem a última palavra sobre o nosso valor a não ser nós mesmos.
E a partir disso, abri um canal enérgico aqui dentro e decidi transformar isso - a raiva, a agressividade - numa maneira mais assertiva diante daquilo que me cabe fazer, enfim, deixar a lenha queimar para bons motivos: acordar de manhã e trabalhar todos os dias com mais certeza, naquilo que adoro fazer. Lapidar alguns talentos, aceitar as minhas limitações minhas e a do outro, ir atrás do meu bem-estar e de quem amo com mais perseverança, aprender a perdoar o que é possível e dar o golpe último, naquilo que não é, conviver com o que é banido em mim e no outro, na sombra, de maneira consciente e acreditar sempre nos resultados das transformações de nossa alma...
segunda-feira, 26 de abril de 2010
DIAMONDS
Estranho, pois como, num período, tão difícil encontrei tanta coisa boa?
Ao mesmo tempo que havia dor e ansiedade para um recomeço, feito de responsabilidades até então negligenciadas pela minha imaturidade e indolência, novos caminhos foram percorridos e mais do que nunca vi o quão preciosa era a vida: tomei banhos longos e deliciosos, caminhava pelo bairro de Pinheiros, em busca de maquiagem e de perfumes - lutava pela minha beleza; comecei a cozinhar e mastigar lentamente; olhei mais as pessoas nos olhos e amei um homem com toda a minha dignidade reinstaurada - e sou grata a ele por tudo o que me deu naquele período - mudei-me de apartamento e conclui apaixonadamente, a minha graduação... Enfim, em meio aos choros às escondidas, quando era pega pelos meus medos e pela surpresa de me redescobrir e ter muito o que enfrentar, solitariamente, mas com muita fé, criei uma nova vida honesta. Fui corajosa o suficiente para não fugir e dar a mim os remédios necessários. Enfrentei diagnósticos sozinha e não permiti sentir pena de mim mesma, pois eu só queria voltar a respirar bem como qualquer ser humano.
Enfim, acho que, intuitivamente, sei voltar a minha casa, aqui dentro, e não há nada e ninguém que poderá tirar-me o que conquistei: a minha vida profunda, criativa, feita de repousos, ousadia, instinto, amor, raiva, esperanças... Uma dieta perfeita para quem quer renascer: diamantes eternos.
quinta-feira, 15 de abril de 2010
I LOVE BLACK BIRDS...
quinta-feira, 8 de abril de 2010
O certo Cavalheiro Branco
Não sei por onde andas. Odeio platonismo, sou propensa à ferocidade dos encantos. Lembras?
Era inverno. Água & chá. Azulejo sua? Gotículas, nas minhas têmporas; saúde, nos teus lábios. Deixei o telefone tocar, fumegávamos, na suspensão do hiato, do retornar a zero, e por isso lhe digo: o mistério está nos limites do corpo. Por onde andas?
A conta gotas me dou aquilo que me emprestara por alguns meses. Com coragem, rasgo o voil da fantasia, evitando me entorpecer da gente e ao receber notícias tuas, sussuro o meu descaro: "Sacrilégio seria anuviar o desembaraço do teu sorriso, enquanto despedia-se à porta...".
Corra, venha ver o que abriguei, nesta caixa: frames do nosso tempo. Congelei um pouco daquilo. Coerência na gente? A busca está no vazios. Lembrança 1: a camisa branca, teu índice fatal. Lembrança 2: meu colar de pérolas caído, no chão, meu índice fatal. Lembrança 3: ...
Por onde andas, tu? Preciso lhe contar a minha tática: tornei-me um recato de moça para lhe superar e reencontrar-te, no próximo anel do espiral do nosso tempo. E assim, digo: não suma para sempre, volte a me fisgar, no fundo do teu coração, onde sorvo, suavemente, nossos prazeres.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
RECICLANDO-SE
segunda-feira, 22 de março de 2010
Reconhecimento do amor, Drummond
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
sua espada coruscante, seu formidável
poder de penetrar o sangue e nele imprimir uma
orquídea de fogo e lágrimas.
Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu em
doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria".
quarta-feira, 17 de março de 2010
Joseph Campbell
quinta-feira, 4 de março de 2010
A MULHER FODONA
Olha, eu vejo isso com os seus prós e seus contras. Creio que a nossa sociedade atual foi abrindo espaços para as mulheres ocuparem, no primeiro momento, com a Revolução Industrial, posteriormente, com os Movimentos Feministas, que revolucionou certos comportamentos de modo que não há como agirmos mais como nossas mães e avós. Dessa maneira, tanto nós, quanto os homens ficamos perdidos quanto essa nova identidade feminina que veio se constituindo, ao longo do tempo. Pois é. Acho realmente triste, quando percebo que mulheres e homens não estão mais se entendendo - sem fazer mea culpa.
De qualquer maneira, o que percebo é que as relações, atualmente, podem ser mais sinceras, colocando em foco o que é realmente importante e não secundarizar aquilo que antes vinha em primeiro plano, a fim de manter um esteriótipo de relação homem-mulher. Quantas mulheres, no passado, ao se divorciarem se sentiram fracassadas? Humilhadas? Isso porque o marido não as tratava dignamente. Penso em minha avó, tadinha, que aguentava os sumiços de meu avô e não tinha coragem de deixá-lo. Enfim...
Acho que é por aí, e dessa maneira concordo que A mulher fodona quer mesmo um cara amoroso, que a respeite e a proteja, o cara que ainda brinca de se relacionar, que não passa da fase instintiva de uma relação, ignorando o ser humano que está à sua frente, com suas peculiaridades (pois temos nossas peculiaridades de mulher) logo deixará de ser interesse.
Agora, respondendo ao meu amigo, não sei se sou uma mulher fodona, mas concordo com o que Antoine Saint-Exupéry disse: "O que é essencial é invisível aos olhos." Ou seja, afeto, carinho, respeito e cumplicidade é o que pesa numa relação.
segunda-feira, 1 de março de 2010
PAUSA
Sei que isso é coisa do ego que quer controle, pois para self tudo já está resolvido, a nossa alma se equilibra sozinha (mesmo nos nossos desiquilíbrios), aliás os nossos sonhos contam um pouco sobre isso, mas temos que estar atentos, pois somos tão ignorantes, que muitas vezes não ouvimos o que dentro de nós clama e nos aviltamos com escolhas que mais nos tiram a vida, do que nos oferecem exuberância...
A alma sabe entrar no rio. Assim, agorinha, dei um tempo com as leituras da aula e resolvi escrever para espairecer um pouco, no meu jardim verdinho.
ARIANE por Beto Silva
Meio brasileira, oriental de fato,
Acordei meio Ariane, com jeito de gato, vontade de escrever.
Vontade mais ainda só de pensar.
Acordei assim, com vontade de pensar em mim.
Na minha vida, nas minhas coisas... no que posso ser.
Acordei ao lado de Nietzsche, Espinosa, Dostoiévski,, todos em livros, lidos em seus discursos.
E Charlotte pelos pelos em minha cama.
Acordei pensando em sonhos, nas fragilidades humanas, em meus desejos alheios.
Em minhas vontades desnudas, minhas vontades humanas.
Acordei sem nada pra pôr na cara, mas muito pra se encher na mente.
Acordei pensando em mim.
Com vontade ir à livraria, comprar mais companhias para meu fim de semana.
Acordei meio Ariane, com vontade de tomar biritinhas, ver meus amigos, estar com outros e deixar um pouco eu mesmo.
Acordei meio Ariane com vontade de pensar na vontade de estar a dois e relembrar minhas dúvidas significantes.
Acordei com vontade de ficar assim,
Assim meio Ariane.
O dia inteiro ...
V- Hilda Hilst
sábado, 13 de fevereiro de 2010
PODE SIM
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
CRÔNICA ORDINÁRIA
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
TESE I
domingo, 7 de fevereiro de 2010
MINHA VOZ
Olho as pessoas ao meu redor e fico embasbacada: como eles se entendem! Como eu os entendo em tão pouco tempo! Em você, nada é estranho, posso rejeitar o meu eu no seu, mas jamais será estranho! Às vezes, a minha voz soa como um trovão, é quando estou apaixonada por alguém, ou alguma coisa, que pode ser até uma ideia, uma sensação que precisa ser expressa e aí eu falo, escrevo, saio do caos por alguns minutinhos. Mas às vezes, a minha voz é oprimida, diminuída, rejeitada, silenciada, ou por mim mesma ou pelos outros e o nó fica ali para ser desatado, em uma outra oportunidade.
Acho sim, acho mesmo que tenho uma voz que quer contar a sua própria versão do que seja a vida, claro, o meu ponto de vista de tudo e de todos, que não é um veredito, e sim um praquejo humano, feito de balbucios descritivos, ou seja, mais um discurso humano, permeado pela cumplicidade de existir.
Deitada, na cama, prestes a adormecer, quando as imagens começam lentamente a surgir sem nexo, eu vi um céu lindo, com uma casa gigantesca, parecida com aqueles palácios romanos, pensei: "É o Paraíso!" . Meu coração disparou, imediatamente, saiu a minha voz irônica: "Não quero morrer, além do mais, sou budista e esse palácio está muito... cristão!".
É isso, é exatamente isso, a minha voz quer sair para falar em alto e bom tom: RESISTO na minha insignificância, nessa noite escura e o que me consola é ouvir-me como uma amiga mais corajosa.
INSÔNIA
Levanto da cama e tomo um copo de leite - um mimo. Lá fora, avisto outra pessoa que parece também ter perdido o sono. Quanta inquietação! A minha é maior, pois quero tudo para um único dia: isso e aquilo e mais um pouquinho! Solidão é interessante quando se está suportavelmente bem consigo mesmo, é como mergulhar a uma profundidade significativa e ali ficar de olhos abertos olhando o seu cabelo flutuando, na água. Mas tem um momento, em que temos que ir à tona e voltar a respirar em companhia dos outros. Mas às 4h00 da madrugada encontro apenas meu bichinho de estimação, que olha sem entender minha perambulação pelo apartamento. Corto um naco de pão de milho, como letargicamente, abro a página de um livro para me dar uma pista de como agir diante disso disso e disso... Volto para cama e fico olhando para o teto: "Eu sou um homem doente..." Não, isso não, isso é o que o Homem do Subsolo disse, e o que disse Gregor Samsa, quando não dormia? Tem gente que tem insights maravilhosos, em noite de insônia, como aquele cara que montou um puta empresa e agora é rico! Mas, definitivamente, esse não é o meu caso! Brinco de tentar adivinhar o meu futuro. Acredito que se me esforçar mais um pouquinho eu chego lá. Lá onde? Enfim. As luzes do vizinho apagaram, ele foi dormir e percebo que está na hora de ceder um pouco: tranquilize-se, é apenas uma noite insone.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
MONTA E DESMONTA/QUEBRA E COLA
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
CADA UM É UM PACOTINHO...
Tem gente que tem medo de ser feliz! É, e confesso: às vezes, eu jogo nesse time, dou uma leve sabotadinha em mim mesma para não acreditar que aquilo que eu desejava está sendo correspondido. Na verdade, é insegurança, é falta de confiança: será que é isso mesmo? Que tá dando certo? E dou umas escapadas pela tangente. Meio peixe grande mesmo, fazer o quê, né? Mas volto para o lugar e aos poucos assumo a responsabilidade. Ou não, fico comendo pelas bordas até a situação se definir pelo acaso, que coisa!
Pois é. Cada um com o seu pacotinho. Com suas indiossincrasias. E respeitá-las e respeitar a do outro já é meio caminho andado para se viver melhor. Mas como é difícil, não? O que pode parecer divertido e banal para você, para o outro é motivo de vergonha e desespero. Ficar lúcida até o fim da vida? Acho importante, mesmo. Ficar sozinha? Adoro, muitas vezes. Se perder caminhando? Me viro, não nasci quadrada. Ficar sem emprego? Pavor! Gatos? Amo-os (profundamente). Medo de ser feliz? A-pren-den-do.